Sabe aquela sensação que dá quando estamos satisfeitos com alguma coisa? É tão bom... mas dura pouco! Quando atingimos a plenitude e nada mais nos falta, a primeira providência que tomamos é negá-la. Sempre falta algum detalhe, algo que ficou por ser feito e que continua nos requisitando. Mas claro: viver é fazer.
Bem-estar não é um estado que se atinge quando cessam os desejos, mas sim uma busca. Quem vive bem, vive bem porque pode experimentar e descobrir o que é viver bem. Se existisse uma receita pronta para uma boa vida que servisse a todos, o socialismo teria dado certo. Na verdade, um dos fatores que mantém o capitalismo funcionando em nossa sociedade é sua capacidade de produzir bens de consumo diversificados em abundância, adequando-se razoavelmente a diferentes estilos de vida dos consumidores.
O design surgiu, precisamente, quando o capitalismo atingia seu ápice de abundância e a concorrência, inevitavelmente, tinha que acontecer em outra arena. Uma saída encontrada por algumas indústrias foi a diversificação da linha de produtos, trabalhando com públicos menores, porém fiéis. O design entrava com a melhoria da qualidade do produto, um diferencial que permitia elevar seus preços. A referência inicial eram valores universais como os ideais clássicos de harmonia, o conceito de “boa forma” da Gestalt, a adaptação dos produtos às medidas corporais da média da população e etc.
Essa estratégia universalista durou enquanto os consumidores estavam satisfeitos em se identificarem com “a massa”. A partir dos anos 60, o burburinho provocado pelo contato entre culturas promovido pela rede de transportes e comunicação, as pessoas passaram a procurar estilos de vida próprios, procurando uma mistura que as tornassem únicas no mundo todo. Difícil definir o que era bem-estar para essas pessoas, já que cada uma pensava diferente. Alguns queriam paz e amor, outros só pensavam em fama e dinheiro...
No final do século XX, o contato intercultural se tornou familiar. As pessoas já conversavam na mesa do jantar como era viver no socialismo soviético ou na tecnocracia japonesa. Ao invés de criticar, as pessoas tentavam entender as diferenças, afinal de contas, os outros povos também eram humanos e cidadãos do mesmo mundo. As viagens turísticas para o exterior adquiriram outra conotação: era uma forma de aprender como outras pessoas conseguiam viver bem em situações completamente diferentes às que o viajante considerava boas em sua própia cultura.
O bem-estar hoje é considerado relativo, entretanto, as pessoas concordam em uma coisa: bom mesmo é poder experimentar. O desejo dos consumidores por novas sensações, novas experiências, novos estilos de vida, tem levado o design a abstrair seus objetos de trabalho. A forma dos produtos parecem cada vez mais sugerir as experiências que se pretendem a proporcionar. Os designers chegam a cogitar se o que estariam projetando não seria a própria experiência do produto. Se a experiência é projetável ou não, o fato é que ela é só mais uma tentativa na busca do indivíduo pelo bem-estar dentro de seu estilo de vida próprio. O design, para os consumidores, não define o que é bem-estar mas é um caminho.
Este artigo foi publicado originalmente na Revista Design do website da Tramontina Design Collection.Fred van Amstel (fred@usabilidoido.com.br), 06.08.2007
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