Salvem o Hipertexto!
por Frederick van Amstel
A forma de apresentação de conteúdo canonizada na WWW é o Hipertexto, caracterizado pelos links. Entretanto, hoje é muito comum websites totalmente baseados no Shockwave Flash que desperdiçam esse interessante recurso. O resultado disso é conteúdo pobre e interação pequena.
O conteúdo é a alma do website; ele foi feito por sua causa. Ou pelo menos, deveria. Já a interação é a forma como é apresentado esse conteúdo. Novamente, deveria ser. Porque isso é negligenciado dessa forma, então?
Alguns webdesigners são facilmente seduzidos por novas tecnologias bruxuleantes. Fascinados pelas animações, sons e falsa interatividade que o Flash fornece facilmente, se esquecem de avaliar a utilidade desses recursos para transmitir conteúdo. Colocam por colocar; ficou maneiro, tesão.
Discutirei ao longo dessa coluna vários aspectos dessa tensão, mas me atenho ao Hipertexto, agora.
A maioria dos sites em Flash possuem leitura extremamente linear. Tamanha é a pobreza em sites institucionais desse tipo que boa parte não ultrapassa os 4 links, quase sempre nessa ordem: Gente, existem milhões de maneiras de apresentar esses conteúdos de forma mais indutiva, conduzindo o leitor ao que se quer que ele veja. É até estranho que se convencionou essa ordem porque, pela quantidade superior de acessos que as seções "trabalhos realizados" obtém, deveriam ser prioridades em menus...
Fazendo uma analogia, os menus são muito mais parecidos com índices de manuais (chatos) do que com conversas com amigos (cativantes), proporcionados por textos "interlinkados". Lembre-se que nelas se pode esquivar de um assunto ou perguntar mais sobe outro. A pergunta é o clique.
É por isso que a maioria dos sites em Flash são ineficientes e frustram as expectativas dos clientes. A arquitetura da informação é muito primária e o conteúdo não é fixado pelo internauta porque quando ele se dispõe a ler um texto, sente uma quebra quando chega ao final. É forçado a retornar para o menu para proseguir a leitura. Isso sem falar que é mania entre os Flashdesigners utilizar fontes minúsculas em seus websites.
Entretanto, quando digo texto, não me refiro apenas a conjuntos de caracteres utilizados para transmitir idéias, mas qualquer elemento que possa ser considerado como conteúdo. Imagens, sons e recursos interativos também estão aptos a transmitir idéias. Ou seja, a "linkagem" pode ocorrer entre todos os elementos de um website.
Agora, pense em três dimensões: uma esfera pontuada na sua superfície representando o conteúdo de um website. Para quê ir de ponto em ponto, traçando curvas pela superfície? É muito mais rápido traçar retas pelo interior da esfera, indo direto ao que se quer. Mesmo um ponto de partida comum, como um menu, é um empecilho à navegação fluida.
É uma tentação... Texto sublinhado em azul. Clique. Abre instantaneamente outro texto. Dá ou não dá prazer? Além disso, é mestre em capturar a atenção do usuário — só perdendo para fotos — e ajuda a leitura dinâmica (scanning) que as pessoas utilizam para ler na Internet. Realces em palavras são de grande valia nesse complexo procedimento.
Por isso o Hipertexto é considerado uma das maiores evoluções no campo da Comunicação no século XX. O Flash já dá sustentação para a tão sonhada Hipermídia (onde se encontra texto, som, vídeo e mais) e pode se tornar cada vez mais importante na WWW. Basta que se apliquem esses conceitos.
Adendo pró-textual
Só lembrando que ferramentas de busca como o Alltheweb já indexam textos contidos dentro dos SWFs, os arquivos gerados pelo Flash. Isso é um fator muito importante na hora de planejar um website cujo conteúdo é preponderante. Considere que a maioria dos internautas usam essas buscas para achar informações específicas. Eles sentem preguiça até mesmo de procurá-las numa página que sabidamente conterá tal conteúdo.
Exemplos de bom uso de Hipertexto no Flash: