Essa é uma das discussões mais recorrentes dentro dos fórums e listas de webdesign. Tem gente que já se cansou de ouvir esse assunto. "É como discutir se o que veio primeiro foi o ovo ou a galinha: roda, roda e não se chega a lugar nenhum", dizem. Como eu aprendo sempre com os conhecimentos colocados à prova nas discussões, vou tentar esclarecer algo para o leitor, OU NÃO.
Você pode dizer "você é muito importante para mim" ou "bela donzela você é a luz de minha janela". As duas mensagens tem a mesma intenção, porém efeitos distinstos. A primeira é direta e objetiva; a segunda também é direta, mas é mais sofisticada. Consideremos essas frases como o "design" do falante. Dentro de um contexto, uma alternativa pode ser melhor do que outra.
Agora perceba a diferença neste exemplo de frase: "O coração de um jagunço arde como um iceberg frito". Depois de ler você pode ficar com a pulga atrás da orelha pensando o que eu quiz dizer com isso OU NÃO, já que no momento em que escrevo não predomina meu lado artístico do cérebro. Arte é caracterizada pela pluralidade de interpretações, não há uma intenção clara do artista em comunicar uma única mensagem. Essa é a graça da obra de arte, cada um vê o que quer.
Aqui cabe um parênteses sobre a máquina computador. A psicóloga Sherry Turckle fez um estudo com crianças no começo dos computadores pessoais (O Segundo Eu). Ela chegou a conclusão de que o computador atua como o teste de Roscharch (aquele em que te mostram uns borrões e pedem que diga o que significa). Cada criança tinha um relacionamento diferente com o computador, ele podia servir como um ombro amigo, um incentivador aos estudos ou apenas uma ferramenta sem vida. Isso nos faz pensar que o computador possa ser uma das mais maravilhosas obras de arte que o homem já criou, OU NÃO.
As primeiras interfaces eram simples e ofereciam pouca abstração. Afinal, havia pouca informação a ser transmitida ao usuário. Com o advento da Web, cada computador está conectado a uma infinidade de informação e como colocar tudo isso na ponta do dedo que clica? Steven Johson fala que essa é uma tarefa artística no livro Cultura da Interface. A infosfera exige uma nova linguagem que em parte se cria junto com a nova tecnologia e em parte a partir de tradicionais formas de criar ambientes: arquitetura, cinema, romance.
Voltando à questão do contexto, conto uma passagem interessante. Certa vez, um estudante de Jornalismo levou para a Bienal de São Paulo um quadro que ele mesmo pintou toscamente, sem apuro artístico. Encostou-o contra à parede no chão ao lado de outras pinturas pinduradas. Observou que as pessoas que passavam por lá, fitavam com atenção esse quadro afixado de forma diferente. E o quadro ficou lá até o final da Bienal, nem mesmo a organização do evento notou que a peça não fazia parte da exposição.
Isso serve de lição para mostrar que tudo pode ser Design e tudo pode ser Arte, depende do contexto. E uma coisa permeia a outra: artistas estão usando garrafas de Coca-Cola em obras de arte e designers estão usando grafismos em interfaces.
Como disse antes, gosto de discussões e não quero por ponto final nesse artigo. Então, envie-me um email se você também acreditar que a contradição é inerente ao homem e deve ser discutida para que não nos acomodemos.
* Frederick van Amstel é webdesigner na DC2 Comunicação.