Se computadores precisam ser alimentados com dados, então é bom que eles valorizem o input do usuário tal como um cachorrinho valoriza a comida que lhe é dada. Nesse sentido, a interação que acontece por meio das interfaces deve seguir os princípios de polidez, respeito e gratidão.
Um cachorro não costuma seguir tão estritamente tais princípios, portanto mudaremos de analogia. Em determinados casos, um artefato interativo deve se portar tal qual o aprendiz de um mago: serviçal, mas ao mesmo tempo, esperto o suficiente para surpreender o mestre.
O aprendiz dirige suas palavras com submissão, cumpre as ordens do mestre e está sempre observando cada detalhe do trabalho para aprender mais. Ele faz poucas perguntas, pensando bem se vale à pena fazê-las. Quando o mestre está prestes a cometer um erro, o aprendiz pode supreendê-lo avisando-o. Ele pode também perceber algo que o mestre não tinha percebido.
Isso é o equivalente à interface dotada de:
Mudar a cor de um botão quando o mouse passar por cima dele, é como se a interface dissesse: "pronto mestre, é isso mesmo o que você quer?" Fazer o botão parecer apertado durante o clique do mouse, é o primeiro indício de que a interface entendeu o que o usuário quer e já dá sinais de que vai obedecer. Desabilitar e esmaecer o botão que se destina a levar o usuário à posição em que ele se encontra é uma forma de mostrar que a interface está ciente do que ele está fazendo no momento.
É claro que esconder um botão na hora errada pode levar à mesma reação do mestre quando o aprendiz some com o frasco de raspas de bigode mula. Enquanto o aprendiz pode aprender através da reprensão do mestre, o computador nem pode ouvir os resmungos do usuário. Em softwares extensíveis, em especial os de código-aberto, podemos construir nossos próprios remendos para o impasse, mas isso ainda exige um conhecimento técnico aburdamente alto.
A tendência é que essa customização se torne cada vez mais fácil, na medida em que o uso do software se torna público. As pessoas customizam as cores do MSN, que são exibidas para as pessoas com quem elas conversam, mas não customizam as cores de seu sistema operacional porque pouca gente vê. O celular ainda oferece poucas opções de customização, mas as pessoas utilizam elas intensamente: ring-tones, wallpapers, adesivos, capas e etc. Carros tunados são exemplos de customização além da aparência, assim como poderiam ser os novos celulares de interface flexíveis. Fico imaginando o seguinte diálogo:
- Ei, como é que você conseguiu me mandar um recado no Orkut tão rápido?
- Ah, eu montei uma mashup para fazer isso no meu celular
- Pô, como é que eu faço uma dessas pra mim?
- Juntei a API do Orkut com o SMS do celular. Pronto, te mandei por bluetooth.
- Valeu! Vou devolver o recado agora mesmo.
Se não fosse o excessivo controle das antiquadas operadoras de telecom, a cultura da remixabilidade já teria chegado aos dispositivos móveis.
Para costurar o devaneio, fica a idéia de que a maior valorização do input do usuário é a própria possibilidade de reconfiguração do artefato em função de seu input.
Fred van Amstel (fred@usabilidoido.com.br), 08.11.2006
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