Há muitos anos estudo o fenômeno da criação coletiva em design. Embora ainda existam pessoas que defendam a noção do gênio individual para explicar a criatividade no design, nos últimos anos, percebo que esta noção tem diminuído sua relevância tanto na academia quanto no mercado. O problema principal é que os gênios criativos não conseguem garantir criatividade em todos os projetos nem tampouco atender todos os projetos que demandam criatividade e inovação.
Embora eu não acredite que a figura do designer criativo tenha morrido, reconheço que o momento atual demanda maiores investimentos em criação coletiva, pois as equipes de design precisam cada vez mais incluir outras pessoas que não são formados em design. O projeto está cada vez mais complexo e multi-facetado. A figura salvadora do gênio criativo não inspira a confiança necessária de que todos os principais aspectos do projeto serão levados em conta. A participação e cocriação estão neste momento melhores cotados.
Na minha aula do BEPiD sobre processo criativo, fizemos uma discussão produtiva sobre como trabalhar em equipe de maneira criativa. Compartilhei os slides com os estudantes e deixei eles livres para comentar os slides ao invés de eu apresentá-los. Segue com a gravação do áudio.
As frases contidas na apresentação resumem minha experiência de 15 anos trabalhando com equipes de design:
Criatividade não é um talento. É uma atividade que qualquer um pode participar.
Toda cria-atividade produz o seu cria-espaço. Este possui tanto a dimensão física quanto a dimensão imaginária. Eu tenho uma ideia aqui. Eu penso diferente. Temos que lembrar do que discutimos antes. Ideias na mesa Ideias na fala
Todo método de cria- atividade implica numa ordenação do cria-espaço.
Limitações no cria-espaço que, a princípio, inibem a cria- atividade podem se tornar pivô para ideias questionadoras.
Liberdade criativa é a capacidade de impor seus próprios limites.
A primeira ideia é sempre a pior ideia que você vai ter.
A solução de um problema sempre cria outros problemas.
A contradição é a origem do problema, mas também da solução.
É importante considerar problemas alternativos tanto quanto soluções alternativas.
As possibilidades que o mundo oferece sempre são maiores do que as consideradas pelo pensamento.
Criatividade não é pensar fora da caixa. É repensar a caixa.
O impossível se torna possível quando a caixa que restringe o pensamento se expande.
Ideias em gestação no inconsciente surgem em momentos de relaxamento e contemplação.
A inspiração pode vir de qualquer lugar, porém, certos lugares são mais inspiradores do que outros.
Na cria-atividade, lembrança é tão importante quanto imaginação, pois as ideias precisam ser confrontadas constantemente.
Uma ideia materializada tem mais chance de ser lembrada e confrontada do que uma ideia guardada na cabeça.
Um cria-espaço bagunçado propicia o confronto de ideias melhor do que um cria-espaço organizado.
Ideias malucas servem como condutoras para ideias sérias.
O autor de uma ideia se ofende quando criticado pois se identifica com sua ideia.
Ideias sem dono se desenvolvem mais rapidamente.
O novo surge do indivíduo mas precisa do coletivo para se tornar inovação.
O cria-espaço torna visível o caráter coletivo da cria-atividade.
Fazer concessões é inevitável em qualquer cria-atividade.
Quando uma ideia é rejeitada, é melhor que ela seja guardada no cria-espaço do que jogada no lixo.
Uma ideia rejeitada que volta das cinzas é mais forte do que uma ideia que nunca morreu.
O conceito é formado por ideias relacionadas, coisas conectadas e pessoas comprometidas.
Um conceito abstrato se torna cada vez mais concreto pela materialização das suas relações constitutivas.
O conceito é, enfim, o fruto maduro da criação coletiva.
Depois desta aula, tivemos também um seminário sobre processo de design. Pedi que cada estudante de design escolhesse um processo listado no catálogo de processos de Hugh Dubberly e gravasse um vídeo explicando-o.
Embora o processo seja fundamental para organizar a criação coletiva, eu não acho necessário seguir o processo à risca. O mais importante num processo de criação coletiva não é seguir as etapas, mas sim manter a energia da equipe no nível vibrante. Por isso, prefiro estruturar o processo de criação coletiva com espaços e materiais flexíveis que possam ser utilizados sob demanda, dependendo dos anseios manifestos pela equipe.
Fred van Amstel (fred@usabilidoido.com.br), 26.06.2017
Veja os coment?rios neste endere?o:
http://www.usabilidoido.com.br/processo_criativo_coletivo.html