Esses dias a revista Webdesign me consultou sobre o que achava que havia dado certo ou errado na Web este ano. Pensei logo em exemplos como Flickr, Delicious, Google Adsense, etc. Mas o que essas iniciativas teriam em comum? Qual é o segredo do sucesso?
Bem, todas fazem parte de um movimento chamado Web 2.0 que visa usar melhor a rede tanto do ponto de vista tecnológico quanto sócio-econômico. Apesar do conceito original ser bastante amplo, muitas pessoas tem discutido Web 2.0 como sinônimo de Ajax, Webservices, RSS, Blogs e etc. Estas são apenas meios para atingir o paradigma Web 2.0.
Mesmo o próprio Tim O´Reilly, um dos fundadores do movimento, só consegue explicar no que consiste esse paradigma através de exemplos do tipo: "isso é Web 2.0" ou "isso não é Web 2.0". Os padrões que ele identifica nos modelos de negócios, design de interação e infra-estrutura são de fato perceptíveis, mas ele não consegue sintetizar qual é a essência da Web 2.0.
Poderia muito bem responder à revista Webdesign o que acho da Web 2.0, citar exemplos e tecnologias utilizadas e os leitores poderiam pensar: "nossa, como esse cara é atualizado... nem sabia que existia isso. Vou logo baixar umas apostilas sobre o assunto". Isso não seria justo de minha parte porque Web 2.0 não faz parte da realidade brasileira ainda. Não entendemos nem direito como usar a Web 1.0, que dirá de uma nova versão.
Na minha opinião, estamos atrasados por dois motivos principais: modelo de gestão familiar e mídia de massa.
Muitas empresas ainda são administradas pelo patriarca, seguido pelos filhos e outros parentes. Mesmo quando não é familiar, a hierarquia da empresa ainda é patriarcal. O chefe manda, você obedece. Decisões estratégias só vêm de cima para baixo, nunca de baixo para cima. Devido à centralização excessiva, a empresa se move devagar e emperra na burocracia.
Quase todos os veículos de comunicação são exemplos claros do modelo de gestão familiar. Antônio Carlos Magalhães manda na Bahia com seu jornal e rede de televisão. No Paraná, Fransciso Cunha Pereira não é tão poderoso, mas muito influente. Otavio Frias Filho dirige o jornal que herdou do pai, Folha de São Paulo e também o Universo Online, do mesmo grupo.
A problema disso é que o veículo é usado para reafirmar essa relação patriarcal. "Se saiu no jornal, é porque é verdade", diz o povo. Tudo bem que não é todo mundo que acredita em tudo que publicam, mas é difícil contestar uma fonte quando não há alternativas. Quantos jornais você tem disponíveis em sua cidade com posicionamentos diferentes? E redes de televisão? Não vai dar uma mão.
É natural que para esses "coronéis da mídia" a Web seja mais uma mídia de massa. Ao invés de explorar seu diferencial em relação às outras mídias, reproduzem o mesmo modelo viciado. Para um modelo de gestão conservador isso é certo, já que o retorno é mais previsível e rápido.
Não são só os veículos de comunicação que são conservadores. A maioria das empresas brasileiras é assim, devido ao modelo de gestão familiar, que é conservador por natureza. É por isso que vemos tão poucas experiências inovadoras na nossa Web. "É melhor copiar o que está dando certo do que tentar inventar moda", pensam os empresários. Não arriscam porque se der errado, quebram a empresa e, em última análise, a família.
Porém, os princípios fundamentais da Web não apoiam essa postura. Há alguns anos, li o Irapuan Martinez evocando esses princípios na ArqHP, mas não consegui encontrar a definição original. Pensei em três:
Respondi à revista que este ano, mais do que nunca, deram certo as iniciativas que souberam aproveitar esses princípios. Se nossa sociedade é patriarcal, é justamente na Web onde os filhos revoltados se encontram para encontrar o que essa sociedade não oferece. Se dermos o que eles precisam, pode ser que nossa sociedade se transforme quando esses filhos ocuparem o lugar dos pais. Sacou a responsa, webdesigner?
Fred van Amstel (fred@usabilidoido.com.br), 13.10.2005
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