Minha primeira tarefa ao ingressar na agência de inovação da PUCPR foi ajudar o Leonardo Tostes a organizar o Design Shop, a primeira fase do programa Hipuc. O objetivo era sensibilizar os estudantes da PUCPR para as oportunidades de inovação na área da Saúde.
A abordagem que escolhemos para o Design Shop foi o pensamento projetual expansivo, mais conhecido como design thinking. Queríamos oferecer uma experiência prática de inovação à partir da colaboração multidisciplinar, desenvolvimento contextualizado e prototipação low-tech.
Pensamento projetual na Saúde [MP3] 24 min
Foram 3 sábados consecutivos de Design Shop no Hospital Marcelino Champagnat, que abriu suas portas para nossos estudantes. Trata-se de um hospital jovem que tem o objetivo de oferecer cirurgias de ponta e acolhimento no estilo de um hotel. A parceria foi possível devido ao interesse do hospital em desenvolver projetos de inovação.
A metodologia Design Shop que desenvolvi junto com o Leonardo Tostes é baseada nos seguintes pontos:
Durante o Design Shop tivemos apenas uma palestra, dada pelo professor Marcos Schlemm. Ele explicou como gerar insights à partir da observação de situações reais, que é a base do pensamento projetual expansivo. À partir daí, tivemos apenas atividades práticas para gerar inovações na área da Saúde.
Começamos o Design Shop com uma visita guiada pelo Hospital Marcelino Champagnat ou, como o Leonardo Tostes gosta de chamar, um safari. Fomos guiados pelo concierge do hospital, que conhecia todas as rotinas de cuidado aos pacientes.
Durante a visita guiada, os participantes do Design Shop observaram a rotina de trabalho e fizeram muitas perguntas. Nós que organizamos o evento pudemos perceber que os tipos de pergunta já refletia a disciplina em que o estudante estava se formando. Engenheiros queriam saber dos números, profissionais da saúde queriam saber dos riscos e designers queriam saber dos artefatos.
Para socializar as observações dos participantes, organizamos duas atividades práticas. A primeira foi um speed dating em que os participantes trocavam de parceiro na conversa a cada 3 minutos. Eles foram convidados a conversar sobre o que chamou a atenção deles durante a visita guiada.
Em seguida, montamos um Diagrama de Afinidades para visualizar as observações de maneira coletiva. Cada um foi convidado em silêncio a colocar três tipos de observações: insight (post-it verde), evidência (post-it laranja) e dúvida (post-it azul). Os post-its foram agrupados por temas, porém, o que pode-se perceber pela foto é que alguns temas tiveram mais notas de um tipo. Isso reflete a falta de foco nas observações.
Os participantes foram encorajados a formar grupos à partir das dúvidas compartilhadas. Ao final do primeiro dia, os grupos formularam uma pergunta para nortear a pesquisa durante a semana. Tivemos 4 perguntas norteadoras:
Na semana seguinte, repetimos o mesmo exercício de compartilhar insights, evidências e dúvidas. Desta vez, o diagrama teve um balanço melhor de cores. Os insights estavam baseados em evidências e as dúvidas refletiam o interesse dos participantes em obter novas evidências. Com esse exercício prático, conseguimos demonstrar o valor do design baseado em evidências e da organização visual da informação.
Depois de compartilhar a pesquisa, cada participante foi convidado a refletir sobre o que desejava mudar no contexto da Saúde. Algumas pessoas já tinham um projeto em mente, porém, a maioria tinha apenas uma vaga ideia. Por isso, pedimos que eles fizessem um modelo com massa de modelar do comportamento que eles gostariam de modificar na Saúde, deixando de lado o como fazer para isso acontecer. De uma maneira indireta, enfatizamos a importância de começar o projeto à partir de uma intenção de transformar a atividade social.
Como nem todo mundo tinha uma ideia de como mudar tais comportamentos, oferecemos aos participantes sugestões de estratégias para mudar o comportamento através do design. As estratégias do baralho de cartas Design com Intento foram colocadas numa escada e os participantes selecionaram as que faziam sentido para seu comportamento.
Ao final, contemplamos os comportamentos e as estratégias escolhidas. Sugerimos que os participantes formassem novos grupos baseados na similaridade de intenção de mudança de comportamento.
A partir daí, os participantes entraram num ciclo de criar, prototipar e testar suas propostas dentro do hospital.
Para prototipar uma mudança no processo de cuidado dos pacientes internados, uma das equipes resolveu improvisar um teatro.
Outra equipe preferiu utilizar Lego para propor uma mudança no Pronto Atendimento do hospital.
A prototipação física foi útil até mesmo para a equipe que desenvolvia um aplicativo móvel. Eles fizeram um mapa físico para demonstrar a funcionalidade de calcular o tempo esperado de atendimento no hospital mais próximo.
A equipe que tinha programadores prototipou direto no ambiente de desenvolvimento iOS. Porém, após testar o protótipo e verificar seus problemas, a equipe foi aconselhada a fazer um protótipo de papel antes de mexer no código.
Todas as equipes acabaram montando um protótipo testável e levaram até possíveis usuários dentro do hospital. O teste de usabilidade foi um grande momento de aprendizado para todos.
Ao fim do Design Shop, as equipes apresentaram um vídeo mostrando seu protótipo em funcionamento. Foram convidados executivos do hospital, analistas da Agência PUC e professores da PUCPR para assistir as apresentações e dar feedback às equipes.
O pensamento projetual expansivo demonstrou ser uma abordagem bastante prática para estimular estudantes da Engenharia Eletrônica, Engenharia de Produção, Farmácia, Medicina, Design de Produto e Design Digital a buscar a inovação na Saúde. A pesquisa com usuários e os materiais de cocriação foram essenciais para estabelecer a base da colaboração.
Fred van Amstel (fred@usabilidoido.com.br), 05.07.2016
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