Há muitos meses atrás, Andrei Herasimchuk escreveu um artigo detonando a prática de usar perfis fictícios de usuários para guiar o design de interface. Para ele, o método chamado Personas não é suficiente para fazer a equipe considerar o usuário nas decisões do design, apesar de ser seu objetivo declarado. Ele propõe, então, um método que desenvolveu à partir de sua experiência no teatro, o Método do Designer.
A idéia é: ao invés de escrever numa folha de papel quem é o usuário e como ele se comporta, o designer deve "ser" o usuário. Ele deve sentir nas suas entranhas todos as dificuldades que o usuário sente ao usar o aplicativo, deve se sentir no contexto dele, chegar o âmago de suas motivações.
Na prática, ele propõe o seguinte:
Por mais doida que pareça essa idéia, ele aplicou mesmo no desenvolvimento dos Adobe Photoshop, Illustrator e Indesign. Nos arquivos de vários Usenets que ele tem mais de 800 mensagens postadas.
Provavelmente, muitos outros designers apliquem essa técnica há muitos anos, mas sem nunca terem pensado um nome para ela. Antes de ler a coluna do Andrei, já havia experimentado o método e comprovei sua eficácia.
Antes de começar um projeto de um website para um ótica de luxo aqui da cidade, fiz questão de ler as revistas da área, conversar com amigos que usavam óculos e até mesmo emprestei o óculos de grau de um deles e tentei navegar na Web. Como tenho visão normal, o óculos me embaçou as vistas. Sensacional! Senti na pele o que é ser míope e estar sem óculos. Agonia pura não poder ler direito.
Ao levantar as motivações dos usuários para acessarem o website, descobri que uma delas era a falta de um óculos ou um óculos com defeito. Puxa! Então, o website tem que ter fontes grandes porque é possível que um míope sem óculos acesse o site. Mas, o briefing exigia que o website fosse elegante acima de tudo. Esse job não foi fácil não, gente.
A primeira idéia de layout incluia fotos cortadas, metade desfocadas e metade focadas. Tinha fotos boas no material e isso daria profundidade ao site, algo diferente. Peraí! Não posso fazer isso. Me lembrei logo como era agonizante ver embaçado. Imaginei que pessoas que usam óculos devem ter trauma disso, por isso descartei o uso de qualquer efeito de embaçamento.
Depois de alguns dias, propus esta idéia de layout que se baseava num movimento de zoom. Quem é que nunca quis ter aquela visão especial do super-homem? O briefing também especificava que o site deveria ser 100% Flash, então resolvi aproveitar a ultra-compactação vetorial para exibir as fotos, que são exigência básica nesse tipo de projeto. 20kb só na moldura do site. Com o miolo, não chegaria a 100Kb. Tinha certeza de que esse seria meu melhor projeto até ele ser barrado pela (in)direção de arte.
Me obrigaram a usar uma cor escura de fundo, só porque o cliente havia visto o site de uma ótica estrangeira e adorado. Depois que havia criado o novo layout, pedi a alguns amigos que usam óculos para lerem e já me avisaram que as letras estavam difíceis de ler. A suavização (anti-aliasing) que o Flash faz nas fontes deixa-as menos legíveis, porém, mais integradas ao layout. Arranjei uma outra fonte, aumentei um pouco o tamanho e testei novamente. Todos deram ok. No final das contas, até que o website não ficou ruim, mas puxa, como gostaria de ter completado minha idéia inicial.
Mas, chega de passado. Essa semana, peguei um outro job em que vai ser crucial aplicar o método da incorporação. Trata-se do re-design do Flogão, um servidor de fotolog brasileiro que tem mais de 120.000 usuários. Ao contrário da concorrência, pude perceber que a comunidade de usuários interaje muito mais entre si através dos comentários nas fotos.
Primeira coisa a fazer? Montar meu próprio fotolog e interagir com esse pessoal. Claro que não vou me expor como a maioria dos usuários faz, até porque não concordo muito com isso. Mas, tentarei dar vazão à minha amadora experimentação fotográfica, pelo menos.
Na hora de personalizar as cores do meu fotolog, já pude perceber que a coisa é tensa. Passei quase uma hora só pra escolher as cores de uma página, coisa que se tivesse no Flash ou no Word, faria em 10 minutos e olha que a ferramenta de personalização do Flogão é a melhor da concorrência! Fora isso, já anotei uma porção de falhas que precisarão ser corrigidas. Agora, o próximo passo é começar a comentar fotos em outros fotologs e chamar o pessoal para entrar no meu. Vejamos como se dá essa interação e o que pode ser feito para torná-la mais transparente.
Além disso, o webmaster do Flogão, encomendou outros métodos para melhorar a usabilidade de seu produto. De vez em quando trarei pra vocês a experiência com esse job, que é um dos meus primeiros em que o briefing deixa claro que o diferencial do projeto é o cuidado com a usabilidade.
Fred van Amstel (fred@usabilidoido.com.br), 17.11.2004
Veja os coment?rios neste endere?o:
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