Identidade e subjetividade em tempos pós-modernos

Você já parou para se perguntar porque foi tão difícil preencher a informação "quem sou eu" no seu perfil do Orkut?

O primeiro impulso é descrever suas características externas, ou seja, aquilo que as pessoas podem observar de fora. "Eu sou divertido, tenho X de altura, torço para o time Y, trabalho com isso, estudo aquilo." O negócio começa a ficar complicado quando algumas dessas características são contraditórias, como no caso de um evangélico que bebe socialmente. Nesse caso, basta omitir sua filiação religiosa, afinal de contas, no Orkut não é vantagem ser reconhecido como um crente. Lá pelas tantas, afloram as contradições internas. Você escreve que é uma pessoa romântica enquanto o tempo todo fica martelando na cabeça que seu negócio é sexo. Aí fica a dúvida: posso ser romântico e metrossexual ao mesmo tempo?

A maioria das pessoas não consegue resolver tais dilemas e prefere deixar em branco esta informação ou com um poema qualquer.

Isso acontece, a meu ver, por dois motivos: a) cada pessoa tem uma série de múltiplas identidades, exibidas em diferentes situações e grupos sociais e b) o culto da superficialidade desencoraja a reflexão sobre essas identidades e suas contradições inerentes, exigindo que as pessoas pareçam bem resolvidas. O resultado é uma forte tensão entre o que as pessoas sentem que são e aquilo que elas são obrigadas a parecer que são. Quando a contradição aflora, a sociedade reprime rotulando pejorativamente o momento de "crise de identidade" e encaminha o aflito para um tratamento psicológico, afinal de contas, roupa suja se lava na lavanderia.

Se você não está satisfeito com isso tudo ou quer se aproveitar da situação para ganhar mais dinheiro, recomendo escutar a apresentação do seminário sobre o assunto elaborado pela minha equipe no Mestrado. Aos interessados na grana, recomendo altamente os slides que usei para tratar dos badulaques de identidade (roupas, iPod, celulares, etc).

Identidade e subjetividade na globalização [MP3] 2 horas e meia

Equipe: Liber Paz (o mascarado simpático do início), Monique Hornhardt, Jusmeri Medeiros, Arildo Camargo, Alan Witikoski, Fábio Luciano e Frederick van Amstel.

Ao final da apresentação do seminário, a platéia foi solicitada a construir com lixo reciclável algo que exprimisse suas identidades.

Mesa com lixo

Depois da difícil escolha, cada um explicou o significado de seu montinho de lixo. Minha colega Ísis, por exemplo, criou um bichinho com roupas coloridas que exprimem sua alegria permanente, com três olhos para xeretar aqui e ali, com espetos pelo corpo porque ela se sente um tanto quanto pressionada no momento e um cone na boca porque ela fala muito.

Isis e seu bichinho

Livros recomendados

Identidade A Identidade Cultural na Pós-Modernidade Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos

Fred van Amstel (fred@usabilidoido.com.br), 07.09.2006

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