Estética antes, usabilidade depois

É o que argumenta esse excelente artigo na Digital Web. O cara ficou de saco cheio dos gurus da usabilidade dizerem que temos que fazer websites só com links azuis, fundo branco, altos contrastes, enfim todas essas encheções de saco que eu repito aqui também. Concordo com ele. Antes da efetividade da interação, vem o impacto inicial.

Beleza relativa

Compare as duas versões de um design de interface. A de cima é bonita, o de baixo, segue as normas de usabilidade (eu tentei reproduzir as imagens aqui mas o websites idiota não me deixa salvar nem embutir a imagem aqui por medidas de copyright - antiweb).

Tive duas conversas recentes sobre o assunto, e isso está me atormentando. Não tenho muita proeficiência no domínio da estética. Pela minha formação em Jornalismo, prefiro me ater mais ao lado estrutural. Porém, não posso ignorar esse lado. Veja o layout do jornal Comunicação um projeto da minha faculdade. Modéstia à parte tem grande usabilidade, mas não tem esse impacto inicial gráfico que incentive o novo leitor a ler mais. Falei pro professor orientador que precisamos melhorar isso para dar o empurrão inicial da curva de aprendizado da interface. Do jeito que está, está muito sem sal.

No livro "Não me faça pensar", Steven Krug diz que a primeira coisa que devemos perguntar a um usuário num teste de usabilidade é o que ele acha do aspecto visual da página. Para ele, o que o usuário responde não deve ser levado em consideração porque ele não entende de design mesmo. Discordo. A graça da obra de arte está no efeito que ela causa no seu contemplador, e da mesma forma, o design de uma interface.

Claro, é uma medida subjetiva. Quase sempre a pessoa responde: gostei ou odiei, mas não sabe explicar bem o porque. A dica é tentar explorar esses sentimentos através de perguntas indiretas, supor o que incomodou ou agradou ela e ir perguntando em maior profundidade. Perguntar se de outra cor ficaria melhor, acho que não vale à pena porque já é difícil para um designer visualizar como vai ficar aquele design antes de colocá-lo no papel, ainda mais para uma pessoa que não tem treinamento em fazer isso.

Não podemos nos esquecer que cada elemento em um layout está intimamente ligado a todos os outros que compõem o produto final. Se mudar um detalhe por menor que seja, muda tudo. Então, a impressão inicial de que fala o artigo se refere ao conjunto total, não à cor desse ou daquele botão.

Entretanto, no artigo o autor comete um deslize. Se tem uma coisa que aprendi com esses gurus da usabilidade é que não podemos ficar enclausurados na frente do nosso computador, fazendo os melhores designs do mundo sem verificar se eles são realmente efetivos. Nossos próprios julgamentos não são suficientes. Na comparação de duas versões das interfaces, ele diz:

A versão graficamente trabalhada transmite a sensação de facilidade de uso, utilidade e diversão. A versão baseada em texto não alcança isso, o que na minha opinião, resulta em experiências menos favoráveis

O erro está em generalizar isso para todos os usuários. Pode ser que para um determinado segmento a versão baseada em texto seja mais eficiente. Eu e bilhões de pessoas preferem o Google porque ele não tem fru-fru, é muito mais ´rapido. Desinstalei o Windows XP da minha máquina e voltei ao Windows 98 porque, apesar do primeiro ser muuuuito mais agradável, é mais lento. Ou seja, a estética de uma interface deve atender a expectativa do usuário. Se ele não quer fru-fru, não insista. Ponto.

Fotos de pessoas

Outro ponto interessante que o autor toca e é que fotos de pessoas rindo inspiram confiança. Adiciono que uma foto bem aproveitada humaniza mais a interface, causa identificação com o público. Aí vem o senhor Jakob Nielsen e diz que não é porque você tem uma foto de uma mulher feliz na homepage que os usuários vão pensar que também serão felizes se comprarem o produto vendido. Pô, o cara jogou fora décadas da história da publicidade. Essa é velha. De tão velha, às vezes o pessoal exagera e usa desnecessariamente ou com tipos que não conseguem obter identificação com o público.

O que é essa tal de experiência?

Para terminar, colo abaixo uma conversa que tive com um grande defensor das idéias do Nielsen, o Irapuan Martinez sobre o que é experiência do usuário, um dos tópicos que o autor do artigo lá de cima toca:

Lonewolf (Irapuan) 14:31 Usabilidade não tem nada a ver com o grau de experiência do usuário, mas é em função da interface/client que ele opera.
fred 14:31 isso é uma contradição em si
fred 14:31 quem falou isso?
Lonewolf 14:33 Tinha alguns dias que eu estava matutando a respeito. O proposto é idéia minha.

Prova 1: Usuários experts se beneficiam de sistemas usáveis, no mesmo jeito que usuários nem tão experts (Usabilidade não tem nada a ver com o grau de experiência do usuário...)

Prova 2: Acessar um site com o Opera é bem mais acessível que no IE. (...mas é em função da interface/client que ele opera.)
fred 14:35 ah tá, peraí. Desculpe eu tinha entendido que você queria dizer que usabilidade não tinha nada a ver com a experiência, aquele termo vago que eu uso para definir o resultado subjetivo do uso de um consumo
Lonewolf 14:36 Quis dizer experiência no sentido da prática, do background, no hábito de se operar determinada interface. ;)
fred 14:36 entendi
fred 14:36 de qualquer forma, eu continuo discordar de você
Lonewolf 14:36 Por quê?
fred 14:37 acho que o DOS pode ser muito usável para um usuário expert, mas não para um iniciante
fred 14:37 porque usabilidade não é só facilidade de uso
fred 14:37 também tem a ver com a perfomance
fred 14:37 o tempo que leva pra fazer as tarefas
fred 14:38 no DOS eu ia muito mais rápido que no windows, então não aderi ao Win95 quando saiu
Lonewolf 14:39 Mas o que é o Windows Explorer que não uma interface gráfica para algumas tarefas que o DOS opera? Ele habilita o usuário usar um "drag'n'drop" que não sabe digitar "move [path origem] [path destino]".

E um usuário tarimbado no DOS pode usfruir de boa experiência (o ato, o resultado) com o WE.
fred 14:40 são duas interfaces distintinas, com usabilidades distintas
fred 14:40 mas eu concordo com as suas doas provas, entrementes
Lonewolf 14:40 O fato de você não ter migrado ao Win95 e continuar com comando de linha é apenas por hábito. Usuários que não tinha o seu hábito adotaram o WE. E hoje você provavelmente também o utiliza, embora acumule background para operar comando de linha.
fred 14:41 eu amei o win95. Em 3 dias me habituei a ele, indício de que a curva de aprendizado era muito melhro que a do DOS, isso é um dos fatores importantes na usabilidade
Lonewolf 14:41 > são duas interfaces distintinas, com usabilidades distintas

Não, são duas interfaces distintas, porém com tarefas em comum.

Copiar, apagar, criar...
fred 14:42 ok, as tarefas são as mesmas. Mas a usabilidade não é qualidade da tarefa, é da interface
Lonewolf 14:42 agora vc me confundiu. O que é pra vc usabilidade?
fred 14:43 usabilidade é uma qualidade da interface de um produto
fred 14:44 é o resultado de um conjunto de fatores
fred 14:44 de característica
fred 14:44 na verdade nunca tinha pensado nisso hehehhe
Lonewolf 14:45 > usabilidade é uma qualidade da interface de um produto

Tenho por mim que usabilidade é o grau de satisfação em realizar uma tarefa mediante uma interface.

Seria uma determinação (uma medida) de experiência. Usar IE é uma experiência ruim. Usar o Opera, uma experiência boa. Para acessar o mesmo site (mesma tarefa) é mais usável utilizar o Opera.
Lonewolf 14:47 http://labs.google.com/glossary?q=usability
fred 14:48 um produto pode trazer satisfação e ser assim mesmo difícil de usar. Exemplo: o computador em si (é bem mais difícil de usar do que um televisor, mas traz mais satisfação para alguns).
fred 14:49 eu gostei dessa:
"A quantifiable characteristic of a product's user interface. Usability reflects how easy a product is to learn to use and how easy it is to use once it is learned."
fred 14:50 e usabilidade pra mim é só um dos fatores que afetam a experiência total do usuário
fred 14:51 você é o link de ontem no meu blog? tem uns portugueses que falaram isso sobre usabilidade:
"USABILIDADE - Branco é, galinha o pôs
A usabilidade é uma característica daquilo que é utilizável, funcional.
É tornar óbvio o óbvio, tendo em conta as necessidades do utilizador e o contexto em que este está inserido. "
Lonewolf 14:53 então precisa adicionar o fator "falta de opção" na definiçào de usabilidade. Era usável se levantar do sofá para mudar de canal até popularizar o controle remoto.
Lonewolf 14:54 > eu gostei dessa:
> "A quantifiable characteristic of a product's user interface.
> Usability reflects how easy a product is to learn to use and
> how easy it is to use once it is learned."

Intuitividade. Certa vez, há uns dois anos, disse algo a respeito na WDDesign. Não sabemos diferenciar um usuário experiente de um usuário intuitivo e/ou sem medo de explorar a interface.
Lonewolf 14:54 > e usabilidade pra mim é só um dos fatores que afetam a
> experiência total do usuário

quais são os demais fatores?
fred 14:56 experiência pra mim é o somatório do impacto subjetivo e objetivo que um produto causa no seu usuário. Deixa eu pensar bem os outros fatores
fred 14:58 Aparência (a primeira impressão: seja visual, tátil, auditiva ou palatal)
fred 14:59 Usabilidade (o quanto é prático de usar)
fred 14:59 Utilidade (o quanto vale à pena usar)
Lonewolf 15:00 Não, nada de impacto. Impacto é coisa de marketeiro.

Uma maçaneta não gera impacto mas é usável.
fred 15:00 não, Utilidade (o resultado do uso)
fred 15:00 Claro que uma maçaneta gera impacto.
fred 15:00 nao estou usando o termo de forma promíscuida
Lonewolf 15:00 > Aparência (a primeira impressão: seja visual, tátil, auditiva
> ou palatal)

Isso é impressão, não usabilidade. Alguém pode ter uma má impressão do TopStye mas descobrir que ele é o melhor editor de CSS que há.
fred 15:01 Olha só, eu estou definindo os fatores que afetam a experiÊncia total:
1. Aparência
2. Usabilidade
3. Utilidade
4. Custo
Lonewolf 15:02 aonde uma maçaneta cria impacto?
fred 15:02 você sente ela nas suas mãos
fred 15:03 você vê ela antes de tocá-la
fred 15:03 você tem pensamentos associados à maçanetas
fred 15:03 subjetividades
fred 15:03 e sem falar que maçanetas sem cabo podem ser menos usáveis
fred 15:05 mas acho que a palavra impacto está prostituída demais mesmo. Então que seja, efeito:
Experiência é o somatório dos efeitos subjetivos e objetivos que um produto causa no seu usuário.
Lonewolf 15:07 > Olha só, eu estou definindo os fatores que afetam a
> experiÊncia total:
> 1. Aparência
> 2. Usabilidade
> 3. Utilidade
> 4. Custo


Eu pensaria assim:
1) Intuitividade do usuário
2) Interface do usuário
3) complexidade da tarefa

fred 15:09 Mas pra você o que seria a experiência? Me parece que você trata como se fosse sinônimo de usabilidade. Eu não concordo com isso.
OBS: Prefiro o termo familiaridade ao invés de intuitividade.
Lonewolf 15:11 Preciso dar uma saída agora... Mais tarde continuamos essa estimulante conversa. ;)

Fred van Amstel (fred@usabilidoido.com.br), 12.04.2004

Veja os coment?rios neste endere?o:
http://www.usabilidoido.com.br/estetica_antes_usabilidade_depois.html