No período de transição de micreiro para designer, sentia certa dificuldade de ter boas idéias para layouts. Apesar de já ter estudado um pouco pintura, não sou prolífico como certos amigos que nunca precisaram parar para pensar como ter idéias visuais, para eles isso veêm natural e rapidamente.
Então, resolvi procurar abordagens metódicas para agilizar meu trabalho. Li diversos artigos com sequências de ações "infalíveis" para ter boas idéias, mas sinceramente não achei que fosse assim tão e fácil e não foi. Tive que desenvolver meu próprio método, de acordo com minhas habilidades e incapacidades.
Os artigos que mais me ajudaram foram o da Carole Guevin, no Afterchaos. Quem puder ler, vale à pena. São curtos e diretos e dão uma base para quem quiser desenvolver a sua metodologia própria. Na publicidade tem um clássico chamado Um Toc na Cuca que parece muito bom, só não me animei a pagar por ele.
Em todos os artigos, uma mesma recomendação: vá fazer algo longe do PC para ter novas idéias. Explorei esse assunto numa entrevista com um dos caras mais criativos que conheço, o Marcelo Sampaio. Esse cara faz uns banners geniais, mas não soube me explicar bem porque é melhor se inspirar longe do PC.
Esses dias, por acaso (!), essa questão voltou à minha mente e resolvi perguntar para o Donald Norman, que tem um background fantástico em psicologia, o porquê disso. Confiram a tradução da pergunta e resposta originais:
Já ouvi muitas vezes que se você é um designer em busca de um grande insight, você tem que estar longe do PC: folheie uma revista, olhe pela janela, saia correndo do escritório, etc. Eu não sei se essa recomendação é boa para todo mundo, mas me lembro de que minhas melhores idéias vem enquanto estou tomando banho, andando na rua, comendo um lanche. Teria o computador uma força que inibe os insights? Caso sim, ela vem dos modelos de hardware ou dos de software?
Estou tentado a dizer que é tudo culpa do computador -- sórdido, atraidor de atenção, uma pequena besta que está sempre seduzindo-nos com suas tentações: um website aqui, um novo email ali, um novo aparelho para testar, alguma coisa que precisa de atualização ou restruturação, o reboot.
Mas de fato, os psicólogos que estudam a solução de problemas e a criatividade perceberam esse fenômeno há tempos. Basicamente, o caminho para a solução dos problemas, especialmente aqueles complexos, mal-definidos, é deixar que o subconsciente o manipule.
Infelizmente o subsconscinente não pode trabalhar antes de chegar ao apogeu e isso pode levar horas, dias (ou mesmo semanas) de trabalho duro em cima do problema. Você pensa sobre. Você agita. Você refina. E finalmente, você desiste de frustração.
E então, algumas horas, dias ou mesmo meses depois, enquanto toma um banho, pega o ônibus, dá uma caminhada na praia -- puf -- a solução vem na sua mente.
(tome cuidado: a solução providenciada pelo subconsciente desta forma é muitas vezes errada. Poincaré, um matemático francês que estudou o problema, diz que o subconsciente é incrivelmente criativo, mas ele não consegue fazer aritmética. Então quando você conseguir o flash ou insight, a mente consciente tem que checar, para ter certeza que realmente funciona.
Então sair do seu ambiente normal realmente ajuda. Nossa, mesmo fechar os olhos pode ajudar. (Já notou que quando você pensa, tende a fechar os olhos, desfocá-los ou virá-los para cima olhando para o nada? Isso é deliberadamente desligar os estímulos irrelevantes).
Mas o PC é epecialmente uma besta sórdida nessa relação, porque ele está sempre querendo atenção, está sempre exigindo-a. Então sim, fique longe do seu computador. Desligue-o. Vai dar uma caminhada. Mesmo se você não tiver a resposta, o exercício será bom pra você.
Esse assunto merece maiores pesquisas científicas porque acredito que isso precisar mudar se a computação ubíqua quiser ser libertadora. Do contrário, não haverá mais lugares para ter as idéias.
Fred van Amstel (fred@usabilidoido.com.br), 13.01.2005
Veja os coment?rios neste endere?o:
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