Design Participativo é uma metodologia democrática de projeto que enfatiza o envolvimento ativo de todas as pessoas que são afetadas pelo projeto, em especial, aquelas que são historicamente excluídas de processos decisórios. Trata-se de uma metodologia altamente relevante para o governo.
Conforme expliquei num post anterior, em 2016 participei da campanha do vereador Goura em Curitiba. Depois de formar o gabinete, uma das prioridades da equipe do vereador foi fazer um treinamento sobre design participativo comigo.
Montei o treinamento em formato de oficina, uma vez que acredito que design participativo se aprende mais na prática do que na teoria. Apesar dessa visão, fiz uma apresentação introdutória com conceitos básicos como participação social, níveis de participação, agonismo e objeto compartilhado. Também mostrei projetos de referência para os assessores do vereador.
Design participativo no governo [MP3] 1.8 MB 1 hora
Sugeri que o design participativo seja aplicado das seguintes maneiras no governo:
Após a introdução, definimos em conjunto o objetivo da oficina de discutir o planejamento do mandato. Perguntei o que não estava claro ainda e um participante disse "a linha do mandato". Como quebra gelo, pedi para que fizessem um modelo literal utilizando um fio de lã para representar a linha do mandato. Em seguida, eles colaram as linhas num painel e escreveram as ações a serem incentivadas (post-it rosa) e evitadas (post-it laranja) para manter a linha.
Embora cada participante tenha pensado individualmente sobre a linha do mandato, os modelos tiveram diversos pontos em comum. A forma do círculo e da espiral foram predominantes, representando o mandato enquanto um processo de descoberta e ampliação da coletividade.
Vale citar que este é o primeiro mandato que o coletivo representado pelo Goura conseguiu conquistar. Em Curitiba, e mesmo no Brasil, há poucas referências de vereadores comprometidos com coletivos democráticos, portanto, há muito a descobrir e experimentar. Design participativo é só uma das coisas que a gente vai tentar fazer juntos.
Depois de definir a linha do mandato, olhei para minha caixa de Lego Pessoas da Comunidade e propus mapear os públicos com que o mandato irá se relacionar. A equipe mapeou primeiro os perfis de eleitores do Goura, porém, sugeri que mapeassem novos públicos e também públicos que não necessariamente apoiariam o mandato.
O cenário se demonstrou fragmentado, tal como em diversos contextos da política atual. Lembramos que, segundo a proposta do agonismo de Chantal Mouffe, os públicos podem ser reunidos através de paixões e vontades coletivas de transformar a sociedade.
Retiramos os bonecos de Lego e fizemos modelos com massa de modelar para expressar emoções que agregassem diferentes públicos. Depois de modelar, escrevemos as descrições das emoções em post-its rosa e agrupamos os públicos.
As emoções capazes de agregar os públicos do mandato do Goura segundo sua equipe são:
Definir as emoções em palavras é mais difícil do que utilizando a massa de modelar, por isso fiz o aquecimento com a massa antes. Apelar para a emoção é uma prática política antiga, porém, aqui aparecem emoções que raramente são estimuladas por políticos tradicionais.
Neste ponto, a oficina poderia ter descambado para o planejamento da propaganda e construção da imagem do político, porém, o objetivo de estimular emoções não é assegurar o voto nas próximas eleições, mas sim gerar ações coletivas que envolvam os órgões públicos, movimentos sociais e cidadãos sem vínculos associativos.
O urbanismo tático foi uma marca da atuação do Goura quando ele ainda fazia parte do cicloativismo, culminando com a construção da Praça de Bolso do Ciclista. Assim que saiu o resultado das eleições, o coletivo já se organizou para construir a Praça de Bolso da Gilda. No momento, já foram realizadas 3 reuniões públicas para projetar a praça. Qualquer pessoa interessada no projeto pode participar.
Além da Praça da Gilda, elencamos diversas ações concretas que poderiam agregar os públicos. As emoções conceitualizadas na etapa anterior já sugerem a abordagem de mobilização.
Para terminar a oficina, fizemos uma sessão de edição de texto colaborativo com Google Docs para levantar todas as demandas que chegam ao gabinete e esboçar os procedimentos de resposta. Desde que o gabinete foi formado, a equipe tem ficado sobrecarregada com as demandas burocráticas ou fora de escopo do mandato vindas de diversas pessoas e órgãos públicos.
Infelizmente muitas pessoas acham que o papel do vereador é tapar buracos na sua rua e fazer doações de cunho assistencialista. Para desmistificar isso, a equipe fez um vídeo com o Goura explicando o que faz um vereador.
O objetivo do mandato é trabalhar com projetos de mudança amplos na cidade e, portanto, o assitencialismo não será a prioridade. Já na abertura das sessões da Câmara, Goura tomou a iniciativa de formar uma frente parlamentar para defender a mobilidade sustentável. O novo prefeito Rafael Greca ainda não se manifestou decisivamente se irá aumentar a velocidade das vias como fez Dória em São Paulo ou se irá dar continuidade ao programa de ciclomobilidade expandido pelo ex-prefeito Gustavo Fruet.
Espero que a equipe do Goura consiga aplicar a metodologia do design participativo em seus projetos. Como parte do coletivo que elegeu o vereador, estarei ajudando na medida do possível. Se você também quiser participar das iniciativas do Goura , acompanhe a página dele no Facebook.
Fred van Amstel (fred@usabilidoido.com.br), 14.02.2017
Veja os coment?rios neste endere?o:
http://www.usabilidoido.com.br/design_participativo_no_governo_mandato_goura.html