Colaborar para o bem comum

Ano passado escrevemos mais um livro colaborativo na Plataforma Corais. O primeiro livro foi o Design Livre, que contou com a participação de 12 pessoas. Trata-se manifesto sobre a liberdade de projetar em público, com a participação qualquer pessoa, deixando códigos-fontes abertos e processos documentados. O segundo livro é o Coralizando, um guia de colaboração para a economia criativa.

Inicialmente pensada para ser usada por designers de interação, a Plataforma Corais acabou atraindo outros profissionais da economia criativa, em particular, os produtores ligados ao movimento de cultura digital brasileiro. Esses profissionais perceberam nas entrelinhas que a Plataforma Corais havia sido projetada para colaborar de uma maneira diferente.

Ao invés de colaborar para agradar o chefe, o cliente ou o usuário, a proposta é colaborar para o bem comum. O que seria isso? O bem comum seriam coisas, objetos, espaços, ideias, serviços ou produções artísticas que ficam acessíveis irrestritamente para quem quiser usufruir e contribuir.

O bem comum é fruto da generosidade das pessoas que gostam de trabalhar em conjunto. Elas preferem doar algo que poderia ser seu só para ver esse algo crescendo com a contribuição de outras pessoas. Quando a obra recebe múltiplas contribuições, ela se torna um bem compartilhado, ou seja, ninguém pode dizer que possui a propriedade patrimonial ou intelectual desse bem.

Em tecnologia da informação, esses bens são conhecidos como software livre. Para garantir que o bem comum não seja transformado em bem privado, foram criadas as licenças GNU. Inspiradas nessa experiência, os produtores culturais criaram as licenças Creative Commons, que permitem cópia, distribuição e alteração do bem comum. Essas licenças se espalharam e hoje protegem vários bens comuns.

Creative commons

Apesar das licenças existentes, muitos projetos não vingam devido à falta de conhecimento de como trabalhar com essa perspectiva de generosidade. Vivemos numa economia capitalista de bens privados cujos valores nos empurram para o outro lado: competição, estrelismo, poder, fama e dinheiro. Quais seriam os valores de uma economia colaborativa?

Essa é a pergunta que nos fazemos no livro Coralizando. A resposta já está no título dos capítulos: co-criação e cria-atividade; aprender fazendo e fazer aprendendo; trabalho colaborativo e economia solidária; autogestão e administração coletiva. Com esses quatro pontos, nós construímos um guia de como organizar um coletivo de pessoas interessadas em construir um bem comum utilizando a Plataforma Corais.

Indice coralizando

Ao invés de uma pessoa dizer o que as outras devem fazer, recomendamos a auto-gestão, ou seja, todos contribuem com tarefas e mão-de-obra. Ao invés de uma pessoa mais experiente liderar os iniciantes, nós recomendamos a troca de conhecimentos entre gerações. Ao invés de captar recursos financeiros provenientes de grandes instituições, nós recomendamos criar a própria moeda digital da comunidade. O livro é povoado de estudos de caso mostrando que essa abordagem de trabalho é bastante prática.

Saosambas

Enquanto estive na Europa, vi muitas dessas iniciativas, inclusive apoiadas por políticas públicas da União Européia voltadas à inovação social. Nos Estados Unidos, essa maneira de trabalhar é conhecida como economia de compartilhamento. Acredito que agora que a economia brasileira está em crise, haverá mais e mais espaço para essas abordagens que fazem muito com poucos recursos.

Fred van Amstel (fred@usabilidoido.com.br), 04.05.2015

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