Cobertura do Intercon 2005

Voltei do Intercon, promovido pelo Imasters em São Paulo, entusiasmado com o interesse dos profissionais pelo lado conceitual de nosso ofício. A maior parte das palestras tratou de estratégias, histórias, negócios, criatividade e ferramentas para criação. Não assisti todas as palestras porque haviam duas salas simultâneas, mas nas que estive presente notei que o público estava de olhos e ouvidos bem abertos para tudo o que os palestrantes falavam. Fizeram perguntas pertinentes e discutiram entre os colegas durante os intervalos.

Gravei uma rádio-reportagem sobre o evento com entrevistas com alguns palestrantes e figuras conhecidas como Fabiano Cruz, Mozart Petter, Leandro Ferreira , Marco Gomes, André Bittencourt e outros.

Cobertura do Intercon 2005 [MP3] 22 minutos

Abaixo segue minhas impressões e opiniões sobre as palestras que assisti.

Direção de arte para web, o processo criativo e os diferenciais

Max ChananMax Chanan demonstrou com o próprio exemplo que diretores de arte para propaganda devem ser excêntricos, malandros, mas muito dedicados. Depois de chegar atrasado para a palestra, teve problemas de incompatibilidade entre seu iBook e o projetor do evento. Demorou quase uma hora para que a organização do evento resolvesse o problema e, durante alguns minutos ele falou que o mercado está precisando de bons diretores de arte, que estejam preparados para varar noites terminando peças solicitadas de última hora que, no dia seguinte, podem ser rejeitadas pelo cliente e jogadas no lixo.

Falou também que esse profissional precisa entender de comunicação e redação, para entender melhor como seu trabalho se encaixa na estratégia de marca da empresa. O diretor de arte precisa ser muito minucioso, olhar para os detalhes da peça com muito senso crítico.

Depois de restabelecido o projetor, Max mostrou alguns de seus cases dos quais se orgulhava e outros que considerava ruins. Infelizmente, não falou muito sobre como foi o processo criativo dessas peças, como sugeria o título da palestra. Um das peças que me chamou a atenção foi o Nina 7 Pecados, já comentado anteriormente neste blog. É uma experimentação em hipermídia impressionante.

Publicidade online e a Nova Propaganda

Michel LentMichel Lent Schwartzmann fez uma comparação entre o mundo analógico de antigamente e o mundo digital de amanhã para avisar que a propaganda como conhecemos hoje precisa mudar diante das transformações que estão ocorrendo em nossa sociedade.

Hoje, temos muitas opções de entretenimento e informação. Com isso, o consumidor está mais crítico e exigente. Se antes podíamos atingir 90% dos consumidores brasileiros comprando espaço no Jornal Nacional, agora temos uma audiência muito mais pulverizada em diversos meios, especialmente as clases A e B. Isso torna especialmente difícil o trabalho do mídia na agência de propaganda, o profissional que escolhe para quais veículos direcionar a verba de um cliente.

Porém, Michel acredita que o poder aquisitivo não será impedimento para que as pessoas das classes menos abastadas terem essa mesma liberdade para assistir o que querem. "Se o produto for útil e bacana, todo mundo vai ter, assim com o celular. As operadoras tem interesse em baixar o preço dos aparelhos para ter uma base maior de consumidores", conclui Michel.

Direta, prática e elucidativa, foi a melhor palestra que assisti no evento. Mais sobre o assunto numa entrevista em áudio que fiz anteriormente com o Michel.

Projetando para a Internet: o design da experiência perfeita

Felipe MemóriaFelipe Memória contou que quando estava fazendo a faculdade de Desenho Industrial, um professor disse a ele que seu trabalho estava muito bonito, mas seria muito difícil para o usuário usar aquilo. Foi então que ele conheceu Jakob Nielsen, com suas guidelines e recomendações. Hoje, ele ainda considera importante conhecer as regras ditadas pelo Nielsen, não para segui-las, mas para entender porque elas foram enunciadas.

As recomendações de Nielsen ajudam a entender que é preciso considerar o usuário em cada decisão do projeto. "Quando o usuário não encontra algo no seu website ou aplicação, você deve agradecer a dica de onde melhorar o site e não xingá-lo de burro", defende Felipe. Ser amistoso com o usuário é na opinião de Felipe, o grande segredo da imagem do Google.

Pensar na usabilidade é tão importante que a Globo.com possui uma equipe especializada só para o Design de Interface, além da de Arquitetura da Informação e de Branding (Design Gráfico). O time de criação da Globo.com é um exemplo de que profissionais de várias disciplinas podem juntos criar produtos muito melhores do que se fossem todos de uma mesma área.

Mostrou alguns cases mostrando o processo de criação dentro da Globo.com e testes de usabilidade e concluiu a palestra avisando que só usabilidade não é suficiente para proporcionar uma boa experiência ao usuário. Mais importante do que o conteúdo na Web é a socialização entre as pessoas que se conectam por meio dela. O Orkut não oferece conteúdo nenhum, nem tampouco tem boa usabilidade, mas mesmo assim é um sucesso. O mesmo para o Hattrick, a paixão da vida do palestrante. "Só podemos ter uma experiência fluida, aquela em que nada consegue nos interromper, se algo nos faz sentir feliz e, para isso acontecer, é preciso uma combinação perfeita de fatores", explica Felipe.

A palestra foi bastante extensa e mostrou ao público não só como usabilidade era importante, mas também como isso podia ser feito na prática.

O fim da web, a convergência de mídias e o fetiche de informação

Luli RadfahrerInfelizmente, não pude prestar muita atenção na palestra de Luli Radfahrer devido ao cansaço da viagem (passei a madrugada no ônibus), mas deu pra perceber que ele analisou a mudança no comportamento do usuário/telespectador/consumidor em tempos de comunicação interativa. Para ele, estaríamos incentivando o usuário a ficar cada vez mais mimado, só dando aquilo que ele gosta de receber. Na opinião dele, isso é ruim porque o usuário se torna alienado e consome apenas aquilo que gosta, perdendo oportunidades de conhecer o novo, aprender novas idéias. Se queremos oferecer experiências realmente ricas, precisamos criar situações desafiadoras.

Luli já é conhecido pelo seu estilo teatral de dar palestras, mas dessa vez pra mim parece que ele exagerou. Fazia piadas e encenações com tanta frequência que ficava difícil de acompanhar o assunto sério que ele estava tratando. Mesmo assim, foi uma das melhores palestras do evento, apresentando um assunto muito pouco discutido.

Fred van Amstel (fred@usabilidoido.com.br), 24.10.2005

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