Minha definição é a seguinte: "Design de Interação é a maneira como um produto proporciona ações em conjunto entre pessoas e sistemas. Além de indicar o aspecto essencial dos produtos interativos, o termo também define um processo de criação e uma sub-disciplina do Design que se ocupa em estudá-lo."
No Brasil, o assunto ainda é pouco conhecido, mas nos mercados líderes em tecnologia, Design de Interação já é um campo profissional e acadêmico, contando com uma associação profissional e vários programas de Mestrado, como o Ivrea, Carnegie Mellon e Umea.
O Design de Interação é mais uma proposta para trazer aquilo que falta à Engenharia no desenvolvimento de novas tecnologias: a preocupação com o usuário. Seu diferencial perante propostas mais antigas como a Interação Humano-Computador e a Ergonomia é que ele não trata da solução de problemas, mas sim da intermediação entre pessoas. A abordagem é muito mais artística do que científica.
Apesar do termo Design de Interface ser praticamente equivalente, algumas sutilezas me fizeram preferir o termo Design de Interação.
Em primeiro lugar porque o conceito de interação é mais fácil de entender do que o de interface. As pessoas sabem o que é interação porque isso faz parte do dia-a-dia delas. Elas sabem também que o adjetivo "interativo" é muito usado no contexto da Informática. Tente definir o que é interação e o que é interface para um leigo e você sentirá uma diferença brutal no entendimento.
Interface me lembra uma superfície onde duas entidades se encontram, uma espécie de filtro. A imagem acústica é completamente estática, passiva. Já quando digo interação, nossa, vejo coisas se movimentando de um lado para o outro. Interação reforça o aspecto principal do que faço: o tempo, a quarta dimensão.
Por fim, Design de Interação é um termo mais abrangente do que Design de Interface porque permite incluir a própria interação entre as pessoas dentro do domínio do Design. O impacto social da interface passa a ser responsabilidade e preocupação constante do designer. Mais uma vez, ressalta que seu trabalho vai muito além de uma tela de computador, telefone celular, DVD, etc.
Até preferia Design de Interatividade, porque mais do que ações isoladas, os sistemas suportam atividades completas, compostas de várias ações. Porém, interatividade é um termo maior e soa mais feio. Talvez pelo mesmo motivo, os estadunidenses não tenham escolhido esse termo.
Usabilidade é só um dos aspectos com os quais o designer de interação precisa se preocupar. Antes de mais nada, ele precisa pensar como o produto se insere na vida do usuário, ou seja, sua utilidade (ou inutilidade). Além de aspectos funcionais, é preciso avaliar aspectos emocionais do produto. Um produto interativo pode ter valor prático nulo e ao mesmo tempo ter uma relevância emocional tremenda (um tamagotchi, por exemplo).
Só para mostrar que o buraco é mais embaixo do que se pensa, veja alguns outros aspectos que comentei anteriormente neste blog:
Em projetos Web, o papel do designer de interação é parecido com o do arquiteto da informação, mas o foco é diferente. Enquanto o AI está preocupado com o armazenamento e recuperação da informação, o DI está mais preocupado com a manipulação e transformação da informação. Em projetos de aplicativos, DIs se sentem mais à vontade do que AIs para fazer o planejamento e em projetos de websites composto de muitas páginas, o AI é o mais indicado.
Se um projeto envolve as duas coisas, a equipe deve dispor de profissionais com conhecimento nessas duas áreas. Em grandes equipes, o DI é responsável por criar os wireframes das páginas, enquanto o AI cria a estrutura do website e o planejamento geral.
Seja como for, a responsabilidade principal do DI é criar um sistema que atenda às necessidades de seus usuários. De nada adianta o cliente que está bancando a aplicação gostar dela se o usuário não estiver satisfeito. Numa aplicação, mais do que num website, é preciso focar no usuário ao invés de em nossos clientes.
Para isso, o DI deve saber transformar dados de pesquisas com usuários em informações relevantes para a definição da interface. Se a equipe não dispor de profissionais especializados em pesquisa com usuários, o DI deve ser capaz de fazê-la. O DI precisa saber muito bem como funciona um teste de usabilidade, uma investigação contextual, uma análise de log e outros métodos de pesquisa com usuários.
O DI também deve ter uma boa noção de design gráfico de interfaces, para que possa orientar o designer gráfico ou de produto para criar uma forma em consonância com a função. Em muitos casos, o próprio designer de interação acaba realizando essa tarefa, ou seja, ele projeta toda a experiência do usuário.
Fred van Amstel (fred@usabilidoido.com.br), 16.01.2006
Veja os coment?rios neste endere?o:
http://www.usabilidoido.com.br/afinal_o_que_e_design_de_interacao.html