As incursões filósoficas dos últimos posts tem o objetivo de mostrar o que estou tentando desenvolver na pesquisa de Mestrado: uma metodologia materialista-dialética para a prática de design de interação. Materialista porque parte do contato com a realidade concreta através de pesquisas de campo e dialética porque encara a contradição como fator de mudança primordial.
Tal metodologia serviria para guiar um processo de design mais participativo, realista e crítico. O poder que o designer tem em mãos para designar artefatos seria dividido com os usuários dos artefatos, tornando o resultado uma obra conjunta. O designer deixaria de ser quem projeta (sozinho) e passaria a ser um mediador dos que projetam. A transformação do processo de design numa atividade coletiva não eliminaria a necessidade de um designer; pelo contrário, exigiria que alguém guiasse o processo para que não disperse ou se desencaminhe.
Esses ideais estão muito em voga nas discussões sobre Web 2.0, mas pouco se fala nas mudanças das metodologias de projeto. Se o produto é aberto à participação, o design do produto também tem que ser aberto.
Na verdade, algumas iniciativas já adotam modelos mais participativos, seja através de pesquisas tradicionais com usuários (testes de usabilidade, card-sorting, etc), seja através de intermináveis programas de beta. Esses modelos estão sendo desenvolvidos de forma ad-hoc, ou seja, estão sendo recriados em função da experiência prática particular, sem uma reflexão teórica que permita sistematizar uma metodologia que outras pessoas possam aplicar em outras situações. Minha contribuição visa justamente montar esse referencial teórico que possa orientar projetos de design de interação que compartilhem os ideais da Web 2.0.
A necessidade dessa reflexão surgiu de minha própria atuação profissional em projetos Web 2.0 em que estou envolvido. Desde o início, ficou claro que a metodologia tradicional de Design Centrado no Usuário não era suficiente para lidar com os novos dilemas que tais projetos traziam. Como ainda não tenho a "metodologia 2.0" desenvolvida, acabei empregando a metodologia tradicional com alguns arremedos. Em minha pesquisa de Mestrado, pretendo refletir sobre as dificuldades encontradas, desenvolver a tal metodologia, aplicá-la num projeto experimental e refletir criticamente sobre o resultado. Vamos ver no que vai dar ou se vai dar.
Siga-me no Twitter, Facebook, LinkedIn ou Instagram.
Humm... bonitas palavras, só sinto falta da linguagem simples e direta com que você escrevia seus posts no início desse blog.
Mas é natural que uma pessoa mude não é mesmo. Seu blog está muito "universitário".
É isso que eu acho.
Tenho essa mesma impressão... ta virando um laboratório científico.. Mais é bem bom para pesquisas mais avançadas.
Estou me esforçando por simplificar o máximo possível o que estou vendo no Mestrado. Poderia explicar melhor se aumentasse o tamanho dos textos, mas acho que só os acadêmicos é que vão ler mesmo...
Acho que está certo, pois quem entra aqui (ou em qualquer site de conteudo ultra-especifico) esta com o objetivo de ler sobre algo que ainda nao sabe, ou adicionar algo novo ao seu conhecimento, se fosse para ver coisas "simples", ou sem muito sentido, viveriamos de orkut só..
:p
Legal, mas acho complicado conseguir um universo significativo de futuros usuários da aplicação em questão para a interação com o designer com um custo coerente. E tem o fator da diversidade cultural também, se você tiver por exemplo dois usuários com idéias opostas para a mesma parte, como será feita a mediação? Se conseguir algo com resultados consistentes e que possam pelo menos esboçar um método lógico vai ser de muita valia mesmo.
Fred, me surpreendeu agora... ótiva visão de futuro! não sei como não tinha pensado nisso antes, realmente a metodologia atual em design centrado no usuário não prevê esse fenômeno que é a web 2.
Grande Fred,
Gosto muito da proposta, mas fico curioso pra saber o quanto uma metodologia realmente participativa pode ser implementada se o indivíduo não interage diretamente com a tecnologia enquanto meio expressivo. Em outras palavras, e seguindo à risca o pensamento do design social, o designer e os "usuários"(detesto esse termo) construiríam o site *juntos*, colocando literalmente as mãos (no minimo 4) na massa.
Não acredito no designer agindo como mediador dos que projetam, ou "guia" do processo. Estou mais do que convencido que o ideal é repensar a ferramenta de projeto e não intermediar seu uso. O MIT tem um projeto que tenta democratizar as principais ferramentas de criação da informática (desenho bitmap, vetorial, redatores, planilhas) tornando-as mais simples e acessíveis, e não necessariamente limitadas. O processo de aquisição de linguagem também depende da experiência do indivíduo com aquele universo expressivo, de forma que o designer como guia ou mediador provoca a sensação de um intérprete ajudando japonês a falar com um brasileiro: os dois conversarão, se entenderão, mas é pouco provável que fiquem amigos íntimos enquanto essa terceira pessoa estiver no meio.
Tree House Studio (MIT):
http://acg.media.mit.edu/projects/treehouse/
Eu defendo essa proposta principalmente através de fenômenos como YouTube, Fotolog e Orkut. Estruturalmente não diferem em nada de tudo que já existia, mas o acesso democrático às ferramentas e tecnologias permitiram inovações expressivas impensadas até então.
Abraços marxistas!
Todo movimento social tem seus mediadores. Hoje as pessoas podem telefonar livremente, mas houve um tempo em que eram as telefonistas eram necessárias.
Devemos nos orientar pelo ideal de empoderamente à todas as pessoas, mas não podemos ser ingênuos o suficiente para acreditar que isso é possível. Nosso trabalho deve se orientar em diminuir o esforço necessário para obter o poder, mas ele nunca será nulo. A verdade é que, na situação de apatia política em que vivemos, a maioria das pessoas não está interessada em poder político.
Quem sabe o debate incentivado por um bom mediador não ajuda as pessoas a abrirem o olho?
Sem dúvidas Fred... Não digo que a mediação não funciona ou que podemos esquecer que ela existe. Estou apenas enfatizando o potencial fantástico e ainda pouco compreendido da construção efetivamente coletiva da web. E não falo das grandes ferramentas 'planejadas' para uso coletivo, mas para a apropriação coletiva de algumas ferramentas para a criação de significados completamente novos.
O designer é também é um indivíduo com seus próprios valores, preferências e isso inevitavelmente aparece na mediação. Todos sabemos que há pontos negativos e positivos nisso, só não podemos ignorar o fato. Mas pense se o know-how ou o acesso à tecnologia não fossem impedimentos para a criação da web?
Como seria esse meio?
BTW, a apatia política é uma postura política *de facto*, e sem dúvida uma das mais poderosas.
Eu pra variar tenho mais perguntas que respostas.
Abraços!
Penso que a metodologia aplicada no livro do memória para representar um sistema que gere ou se aproxime uma experiência perfeita é bem próximo do que seria uma metodologia para sistemas 2.0 onde em decorrer do processo sempre estão presentes DESIGN + DESENVOLVIMENTO e PESSOAS.
A proposta do Memória é bem interessante nesse sentido, mas ele não aprofundou muito na questão. Acho que falta no esquema dele como trabalhar com a comunidade para fazer um design participativo.
Agora esse ideal de experiência perfeita eu não aceito. Isso é impossível. Conversei com ele e ele concorda que é apenas um ideal.
Aqui tem uma crítica sobre isso:
http://usabilidoido.com.br/design_solucao_de_problemas_ou_mediacao_de_contradicoes.html
Assine nosso conteúdo e receba as novidades!
Atualizado com o Movable Type.
Alguns direitos reservados por Frederick van Amstel.
Apresentação do autor | Website internacional | Política de Privacidade | Contato