Quando comecei o Perfil Semiótico aqui no Usabilidoido realmente não imaginava que ia chegar tão longe. Na verdade, nem planejava passar da primeiridade, pelo receio da complexidade com que teria que lidar. Graças ao incentivo de vocês, acho que estamos chegando num método viável não só para entender as expectativas do usuário, mas também para identificar padrões de personalidade entre os participantes do perfil.
Claro que é preciso testar o Perfil Semiótico em outros projetos, mas se o resultado for realmente confiável seu valor será inestimável. Informações como essa permitem entender (e prever) o comportamento do usuário no momento da interação. Longe de uma postura behaviourista do tipo estímulo-reação (como o cão que saliva ao ouvir o sino do almoço), podemos encarar de frente a complexidade do ser humano, procurando por padrões relevantes entre os participantes do perfil.
É um método que considera não só aspectos perceptuais, como a maioria das pesquisas em IHC, mas também emocionais e cognitivos, permitindo um panorama holístico da personalidade dos participantes do perfil.
Dentro de uma empresa, conhecer bem a personalidade dos funcionário é fundamental para formar boas equipes. Grandes empresas contratam psicólogos organizacionais só para auxiliar nessa difícil tarefa. Como nessa situação, cada caso é analisado em particular, os psicólogos costumam aplicar diferentes métodos para obter um resultado preciso. Um dos métodos mais usados é o Myers-Briggs Type Indicator (MBTI), que encaixa cada pessoa dentro de um dos 16 perfis psicológicos que permite indentificar.
A origem do MBTI remonta ao psiquiatra Carl Jung, que chegou a conclusão de que as diferenças de comportamento humano eram fruto da preferências na utilização das diversas funções mentais. Para ele, cada pessoa pendia para um dos lados de cada uma dessas balanças:
Essa última linha foi adicionada mais tarde por Katharine Briggs e Isabel Briggs Myer, que desenvolveram um questionário para identificar qual o tipo psicológico da pessoa, o chamado MBTI. Os 16 tipos são resultado da combinação das quatro escalas acima, formando por exemplo o tipo Extrovertido Sensorial Sentimental Perceptivo. Segundo esta página que cruza os tipos psicológicos com carreiras, uma pessoa do tipo ESFP (F de Feeling) tem jeito para ser veterinária.
A desvantagem principal do MBTI é que trata-se de um método proprietário, ou seja, é preciso contratar uma empresa credenciada para aplicar o teste oficial. Existem alguns sites que oferem questionários gigantescos que te dão um resultado aproximado, mas é chato e demorado demais respondê-los. Outro problema é que é preciso confiar na honestidade de quem está respondendo.
Antes que você responda os questionários do site acima, termine de ler o post. Tenho boas evidências para chutar que você seja do tipo INTJ ou ISTJ.
Para entender melhor as escolhas que vocês fizeram no perfil de secundidade, mostrei as fotos para amigos e perguntei que tipo de pessoa gostaria ou não de se sentir como a pessoa da foto. Escolhi as três emoções mais bem cotadas e três emoções que me surpreenderam no resultado. Veja no infográfico as características pessoais sugeridas pelos meus amigos:
Como você pode ver, algumas características são contraditórias, o que indica que estamos lidando com mais de um tipo de pessoa. Para perceber melhor os padrões, montei um diagrama de afinidade entre as características e liguei as contraditórias (em cinza):
Se você é um leitor assíduo, provavelmente deve ter se identificado com algumas dessas características, umas mais, outras menos.
Não pude deixar de aproveitar a oportunidade para aplicar a técnica de Criação de Personas, tão pouco conhecida no Brasil. Uma persona é um perfil de usuário fictício que representa uma fatia do público-alvo e serve para motivar e guiar os membros de um projeto interativo rumo ao Design Centrado no Usuário.
Durante o projeto do Internet Explorer 5, por exemplo, a Microsoft preparou algumas personas representativas e fez uma campanha interna para conscientizar os desenvolvedores da importância de oferecer uma boa experiência a esses usuários. Durante as discussões sobre o rumo da interface, o nome das personas eram evocadas para defender que determinado recurso seria difícil demais para ser usado por aquela persona, por exemplo.
Como no caso do Usabilidoido não preciso convencer ninguém a focar no usuário, as personas não são tão úteis, mas montei assim mesmo, com o objetivo de mostrar pra vocês a técnica e verificar se o resultado do Perfil Semiótico pode ou não ser usado dessa forma.
Combinando as características do último diagrama com as características dos tipos psicológicos do MBTI e levando em conta uma antiga pesquisa com leitores, consegui aumentar a profundidade do perfil psicológico dos leitores e percebi que havia uma grande coerência em todas as esclas, com exceção da Sensorial - Intuitivo. Alguns dos leitores são guiados pelos fatos (sensorial) e outros seguem sua imaginação (intuitivo).
Por esse motivo, resolvi criar duas personas: uma INTJ e outra ISTJ. Porém, as características do tipo psicológico do MBTI são genéricas demais. Não dá pra copiar direto e aplicar na persona. Melhor é adaptar algumas características e dar o toque literário que vai tornar a persona interessante para ser lida e lembrada.
Segundo o livro Creating Emotion in Games, para um personagem de filme ou jogo ser interessante, ele deve fugir do clichê, do planificado, do previsível. David Freeman recomenda que um personagem típico tenha quatro traços de personalidade característicos e alguns devem ser conflitantes.
Selecionei as características que tiveram melhor correspondência com os tipos MBTI e adicionei uma conflitante, eis o resultado:
Designer de Interfaces
Formação: Antes de começar a faculdade de Desenho Industrial, sua principal ocupação eram os games. Escolheu essa faculdade porque sempre teve facilidade com as artes. Nunca poderia ter feito um curso chato como Administração ou Direito. Começou a trabalhar a partir do segundo ano de faculdade só pra não precisar depender mais da mesada do pai. Há dois anos formado, Pedro se encontrou no Design de Interfaces e quer se especializar nisso, apesar de seu trabalho atual como webdesigner exigir outras habilidades.
Interesse no Usabilidoido: Melhorar o discurso para argumentar com clientes e outros membros da equipe, visando obter uma situação profissional superior.
Assuntos Preferidos:
Tipo psicológico : INTJ (Introvertido - Intuitivo - Pensador - Julgador)
Descrição da personalidade :
Pedro sente uma pressão grande por se manter informado nas novidades da profissão. Por vezes, encontramos Pedro sentado na frente do computador fora do horário de trabalho, só para dar conta das novidades que saem nas listas de email, blogs e sites especializados. Quando está muito concentrado, prefere terminar de ler um artigo ou livro antes de sair de casa para se divertir.
Quando está longe do computador, está sempre no mundo-da-lua. Durante as aulas da faculdade, as aulas chatas eram o momento em que ele tinha as melhores idéias para solucionar problemas do trabalho. Comprou um Palmtop só para anotar as idéias porque, senão o fizesse, esquecia depois.
Seu círculo social é pequeno, não é um tipo popular. No entanto, valoriza muito o contato com as poucas pessoas que mantém vínculos fortes. Pedro prefere não ficar com a responsabilidade de líder, mas se precisar pode guiar uma equipe em projetos inovadores. Quando trabalha em equipe costuma desenvolver idéias em segredo até que tenha certeza de que está certo. "Dizem que sou teimoso, mas sei reconhecer quando estou errado", afirma ele.
Programador de Interfaces
Formação: Começou a trabalhar fazendo websites para amigos do seu pai, um empresário influente. Por causa da pressão do pai, continuou trabalhando na área mesmo depois de ter entrado na faculdade de Ciência da Computação. Agora, no último ano da faculdade, ele espera desenvolver um projeto inovador que vem matutando há tempos e que irá definir sua carreira de uma vez por todas.
Interesse no Usabilidoido: Técnicas e métodos que possam melhorar a qualidade de seu trabalho.
Assuntos Preferidos:
Tipo psicológico: ISTJ (Introvertido - Sensorial - Pensador - Julgador)
Descrição da personalidade:
Quando sai uma nova tecnologia, Rircardo é o primeiro a questionar sua aplicabilidade. Se ele pudesse, colocaria um freio no mercado para que diminua a produção de novas tecnologias e melhore as já existentes. "Não é preciso reinventar a roda" é uma das frases que ele mais gosta.
Ricardo não é um líder carismático, mas sabe organizar muito bem uma equipe se precisar. É um bom planejador porque faz de tudo para cumprir os prazos combinados, mesmo em condições precárias de orçamento e prazo. Infelizmente, outras pessoas se aproveitam dessa sua qualidade para mantê-lo constantemente sob pressão e isso lhe causa grande frustração. "Um dia eu chuto o pau-da-barraca", diz ele consigo mesmo quando está nervoso.
Possui mais amigos virtuais do que reais. Sua ex-namorada acusava-o de ser frio demais, mas os testemunhos de amigos do orkut não condizem com isso. "É mais fácil programar em Assembler do que entender a razão feminina", brinca ele.
E aí, o que acharam? Se identificaram? Por favor, comentem para saber se deu certo ou não o método.
[ Nota ] Leitoras, por favor não fiquem chateadas porque não montei uma persona feminina. Os cuecas de plantão teriam dificuldade demais para se identificar com uma persona feminina, mas sei que vocês, espertas que são presses assuntos, vão entender que os perfis acima poderiam muito bem ser de uma mulher também, com algumas pequenas diferenças.
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isso é chamado no design de personagem-símbolo e é bem usado sim por aqui
Se você está falando do mesmo conceito de personagem-símbolo da propaganda, então estamos falando de coisas distintas. Uma coisa é você bolar um personagem para criar identificação entre sua marca e o público, outra é você criar um personagem para aumentar a empatia de uma equipe de desenvolvimento.
O conceito de personagem pode ser o mesmo, mas o processo de criação e uso é completamente diferente.
Não tenho nenhuma intenção de usar as personas acima em peças publicitárias. Sua função é me guiar no processo de redesign. Na verdade, nem deveria estar expondo isso para os usuários-alvo, mas como nesse caso estou justamente querendo mostrar a técnica pra vocês, foi aberta uma exceção.
Acho o seu blog muito bom e volta e meia entro aqui em busca de novidades.
Gosto muito também da estética do seu site. é super bonito.
Agora eu montei o meu blog, onde pretendo discutir arte, web design, publicidade e atualidades... enfim muita coisa interessante que está ao nosso redor.
Dê uma olhada lá! Estou procuarando colocar umas coisas diferentes, caçar uns tópicos legais...
http://vasculhandoaweb.blogspot.com
Valeu!
não, estou falando de uma personificação do público-alvo como ferramenta, que ajuda na hora de desenvolver coisas como linha visual(aí é bom fazer uns painéis de estilo) e tomar outras decisões que se tornam óbvias, evitando o sobreuso de pesquisa e grupo de foco.
olha, quanta palavra de gente grande.. quem lê até acha
Ué, mas esse tipo de técnica não serve para substituir pesquisas nem grupos de foco. Na verdade, funciona como uma síntese das pesquisas, tornando o resultado mais fácil de ser comunicado e lembrado.
Aliás, seu valor comunicativo é tão grande, que no mercado estadunidense, muitos tem criado personas mesmo sem pesquisar. Acho que podemos classificar essa técnica como Design Centrado no Suposto Usuário. Pra mim, parece arriscado demais.
Dan Saffer publicou um artigo esses dias criticando essa prática:
http://www.adaptivepath.com/publications/essays/archives/000524.php
não serve, concordo. mas você acaba usando menos desse tipo de recurso onde se entra em contato direto com o público, já que tem um esteriótipo do mesmo personificado ali na sua frente. concordo quando você diz que não é a ferramenta ideal para esse tipo de coisa.
(Introvertido - Sensorial - Pensador - Julgador)
Gostaria de ser indicada para participar de um grupo de Orkut, pois não conheço ninguém aqui no brasil onde resido que faça parte. Vocês poderiam me indicar?
Abraços
Eliana Gomes - Engenheira de Computação
30 anos - Brasil
Fred...
Para criar estas personas normalmente se utiliza uma amostra de dados considerável sobre os usuários correto???
Quais e quantas informações você utilizou para criar suas personas?
Outra coisa, que tipo de prática vc espera fazer com informações do tipo: "Começou a trabalhar fazendo websites para amigos do seu pai, um empresário influente. Por causa da pressão do pai, continuou trabalhando...".
Informações mais precisas não seriam mais úteis?
Seria possível obter estas informações por meio desta técnica?
[]'s
Eds.
A gente não pode esquecer que a persona é um usuário fictício. A função dele não é a mesma de um gráfico de estatísticas de pesquisa com usuários. A função dele é captar a essência dos dados da pesquisa e exibir de uma forma mais contextualizada do que o gráfico.
Nesse caso, eu usei minha experiência pessoal com os leitores com que me relaciono, os dados do Perfil Semiótico e esse questionário:
http://www.usabilidoido.com.br/resultado_da_pesquisa_com_nossos_leitores.html
Pra falar a verdade, as personas não ajudaram muito nesse projeto específico. Enquanto fazia o design, elas me ajudavam a lembrar do perfil do usuário, mas não passou disso.
No caso de uma grande equipe que precisa ser convencida da preocupação com o usuário, as personas podem ser excelentes para manter a consistência sobre quem é o usuário e conscientizar o desenvolvedor. Persona é mais uma ferramenta de comunicação do que de design.
Acredito que contextualizar nas personas dados de pesquisas pode sim ser uma ferramenta de design.
Uma vez que uma persona foi definida com seus atributos, eu posso projetar a interface de acordo com os valores dos atributos que defini pra persona!
A chave é, o valor destes atributos... Se por exemplo, por meio de uma pesquisa eu conseguir identificar que existe um grupo de pessoas (persona)com mais de 30 anos, de uma determinada profissão, q tem dificuldade de utilizar um recurso específico, o meu projeto não deverá possuir este recurso!
Imagina isso como uma tabela na frente do design! Se o perfil de usuário alvo do projeto for a persona x! Não utilize Check box ou barra de rolagem, etc...
Claro, um trabalho como esse não é trivial, mas com certeza poderia gerar ótimos resultados para a empresa!
Outra coisa! Acredito q as pesonas não são fictícias, desde que elas sejam criadas a partir de informações reais!
É possível identificar nas personas o usuário alvo do seu projeto!
[]'s
Eds.
Humm post antigo, será que ainda cabe comentar!?
Bom, adorei a técnica.. e sou um Pedro, com certeza!
Abraço!
pelo q eu entende mascote e uma pessoa
q os oupro gosto tipo representante de sala
outros mais
Adorei o post.
mas o teste é pago!
fiquei triste, pdoia ter avisado.
Oi! O blog Eu e Myers-Briggs fala um pouco sobre Tipos de Personalidades! Quer conhecer mais?
clique! http://euemyers-briggs.blogspot.com.br
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