A Universidade de Twente me contratou como pesquisador doutorando, dentre outras, para disseminar o pensamento projetual (design thinking) na faculdade de Engenharia. Na verdade, as engenharias já dispõem de um pensamento projetual, porém, este é muito diferente do pensamento dos designers de interação.
Eu resumo o pensamento projetual de Tim Brown (Ideo) nos seguintes pontos:
Nas engenharias, seguindo Pahl & Beitz, eu resumo o pensamento projetual assim:
Essa comparação é um tanto injusta, já que existem vários outros tipos de pensamentos projetuais, tanto no design de interação quanto nas engenharias. Cada organização e cada disciplina do conhecimento tem uma cultura de projeto específica. Fica difícil identificar os contornos dessa cultura, porém, a partir do momento em que se migra de uma cultura para a outra, as diferenças são sentidas na pele.
Quando eu comecei na Twente, a primeira coisa que senti desconfortável foi a negação dupla da ambiguidade e da multiplicidade. A aceitação de que uma coisa pode ter diferentes sentidos é uma das noções fundamentais do design. Os designers jogam com a ambiguidade o tempo todo, tentando ampliar as possibilidades de sentido. Para muitos engenheiros, a ambiguidade é vista como um erro.
Tendo migrado do design de interação, eu já cheguei aceitando tal cultura de projeto, porém, os engenheiros não aceitavam as minhas práticas no começo. Como eu estava sozinho, eles acharam que eu era uma exceção. Fui rotulado de artista e, mais tarde, de filósofo. Eu não sou nem um dos dois, mas a rotulagem foi a maneira como eles encontraram para me aceitar sem me incluir. Se eu fazia algo que desafiava a cultura dominante, eles diziam: "Ah, o Fred é artista, ele é assim mesmo. Deixa ele fazer a arte dele".
Essa indiferença preveniu que os engenheiros aprendessem com o pensamento projetual que eu desenvolvia, porém, a indiferença foi diminuindo na medida em que eu obtinha resultados com meus projetos. A partir do momento em que começamos a colaborar, surgiram inovações híbridas como, por exemplo, as visualizações low-tech.
No final do meu doutorado, os engenheiros lamentaram a minha partida e reconheceram finalmente que eu havia trazido uma contribuição importante para o pensamento projetual da faculdade. O recém criado DesignLab da Universidade de Twente incorpora vários dos conceitos que eu defendia: multidisciplinaridade, prototipação low-tech e colaboração espontânea.
Esse mérito não é meu. Eu simplesmente trouxe os valores da cultura de projeto do design de interação. Nas minhas atitudes, eu representava uma coletividade que não era conhecida pelos meus amigos engenheiros por isso eu era tratado como exceção. A tese que estou escrevendo recupera as raízes históricas desse pensamento coletivo com o objetivo de diminuir o estigma e também o culto ao designer criativo. Espero que ela seja lida não só nas faculdades de design, mas também nas de engenharia.
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Fiquei curioso se durante o trabalho não apareceu o tema arquitetura no contexto da engenharia...
Com certeza Rodrigo. Encontrei na Arquitetura um pensamento projetual mais próximo do Design de Interação, porém, ainda assim bem diferente. Por isso direcionei minha tese justamente para fazer uma contribuição à Arquitetura com o pensamento projetual do Design de Interação. Em breve estará publicada.
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