Muito se fala sobre a importância da criatividade para o processo de design e pouco sobre a importância da crítica. A crítica chega a ser proibida no método brainstorming. Pra mim, a crítica é tão importante quanto a criatividade no processo de design.
Para criar qualquer coisa, primeiramente, é preciso ser um bom crítico. É preciso perceber que algo está faltando ou não funciona direito para ter a ideia de fazer algo melhor. Também no desenvolvimento do projeto, a crítica é fundamental para o aperfeiçoamento.
Enxergo três papeis que a crítica pode ter num processo de design.
O designer frequentemente pára e observa o que está criando. Ele se coloca como crítico de sua própria obra e decide ajustar, continuar ou desistir do que estava fazendo. Se o designer tiver um senso de auto-crítica aguçado demais, é possível que ele fique paralisado ou até mesmo furioso com sua criação. Se for o contrário, se tiver um senso de auto-crítica muito baixo, é provável que a qualidade do trabalho sofra.
A maioria dos designers tem senso de auto-crítica médio e, por isso, prefere trabalhar em grupo. A crítica de uma outra pessoa é quase sempre diferente da sua própria crítica e muito valiosa para repensar o projeto. A crítica em grupo (também conhecida como design crit) é uma atividade comum em faculdades de design e empresas colaborativas.
Porém, existe o risco da crítica ser muito dura e gerar atritos. Ao invés de proibir a crítica, eu acho mais interessante cultivar a avaliação franca e desincentivar o melindre. Uma das maneiras de fazer isso é criando em conjunto e desvinculando a criação do criador, ou seja, diminuindo o envolvimento do ego. A crítica é sobre o projeto, não sobre a pessoa e suas convicções.
Esse papel da crítica aparece mais proeminentemente nos momentos de análise de um projeto.
Design crítico é quando o próprio projeto tem a intenção de ser ou de estimular uma crítica à sociedade. Ao invés de incentivar o consumismo e afirmar os valores existentes, o projeto questiona o status-quo. Isso nem sempre fica óbvio, mas é a intenção.
O produto de design crítico se parece com um produto normal, porém, quando as pessoas interagem ou descobrem suas funções, eles causam grande estranhamento. O objetivo desse estranhamento é estimular a reflexão e debate num viés crítico. Caricatura, humor negro, sarcasmo e ironia são alguns dos recursos utilizados explicitamente para esse fim.
Design crítico é uma prática iniciada pelo programa Design Interactions do Royal College of Art. Fizemos alguns projetos nessa linha no Faber-Ludens e agora estamos fazendo na PUCPR. Meu colega Rodrigo Gonzatto já desenvolveu com seus alunos dezenas de jogos críticos. Juntos, a gente lançou recentemente uma revista com ficções projetuais feitas pelos nossos alunos sobre temas como vigilância, liberdade, vício e poluição.
A crítica de design seria equivalente à crítica de arte ou à crítica de cinema. Trata-se da leitura crítica de um determinado projeto ou de uma série de projetos agrupados por uma exposição, evento ou estilo. Os projetos são colocados numa perspectiva histórica, levando em consideração suas condições de produção, contexto de uso, significados sociais e potencialidades.
Através da crítica de design, pessoas leigas no assunto podem compreender que nenhum projeto acontece isolado do mundo e possui uma história. A leitura de críticas desenvolve a capacidade de apreciar projetos, sentindo um pouco de sua densidade cultural, mesmo que o leitor não seja designer ou usuário daquele produto.
Esse tipo de crítica ainda é muito raro no design. Os autores pioneiros são os curadores de exposições em museus como Deyan Sudjic e Paola Antonelli. Os livros A Linguagem das Coisas e Cultura da Interface são os melhores exemplos de crítica de design que conheço.
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Muito legal o post, gostei um bocado! Estou num processo de sair da caixa preta e abrir o desenvolvimento de design, co-criando com mais envolvimento de pessoas em todas as etapas. A crítica é um ponto-chave para aumentar a significância das obras, mas é um pouco difícil em relações tão próximas que tenho com os clientes, flui melhor com a colaboração de outros comunicadores!...
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