Laboratório vivo é uma metodologia de inovação social que desloca o investimento em infraestrutura de pesquisa para fora da organização. Em contraste com os laboratórios de alta tecnologia que ficam protegidos a sete chaves dentro das empresas, o laboratório vivo é um espaço aberto ao público. O objetivo é aproveitar a participação para gerar inovações sociais.
Tive contato com essa metodologia na Europa, onde a inovação social é uma política pública. No curso que ajudei a ministrar junto com o professor Pelle Ehn, a gente estudou vários laboratórios vivos e criamos a semente para um novo laboratório na Universidade de Twente, como parte do DesignLab.
O laboratório vivo é chamado de vivo porque é composto primariamente de pessoas. As tecnologias aparecem em segundo plano, já que o objetivo é gerar inovação social. Esse tipo de inovação difere-se da inovação tecnológica pelo foco na transformação de relações, sentimentos, costumes, rituais e modelos de negócios.
No Brasil, já existem vários laboratórios vivos. A pesquisa de doutorado de Silvio Bitencourt da Silva identificou os laboratórios vivos brasileiros e ressaltou a criatividade na orquestração de recursos. Essa pesquisa incluiu também a Plataforma Corais, que eu já desenvolvo desde 2011.
Em 2015, tive a oportunidade de participar da fundação do Laboratório de Tecnologias para a Participação Social na Secretaria Geral da Presidência da República. A visão do laboratório foi construída com a participação de membros da sociedade civil como eu, empreendedores, professores universitários e servidores públicos.
A visão do laboratório é baseada no conceito de permeabilidade, ou seja, que os cidadãos possam penetrar nessa estrutura governamental e interferir nas suas atividades.
Em vista do interesse do laboratório de participar do 16º Fórum Internacional de Software Livre (FISL), propus adotar a metodologia de laboratório vivo durante o evento para experimentar esse conceito de permeabilidade. Planejamos o laboratório vivo à distância, eu, Ricardo Poppi, Henrique Parra e Leonardo Aragão.
O convite à participação no laboratório vivo foi publicado no Participa.br, o portal de participação do governo federal. A proposta era realizar cinco experimentos sobre participação dentro dos stands do Ministério da Cultura e do Ministério das Comunicações. Os participantes do FISL poderiam entrar no laboratório vivo e participar dos experimentos, seja como participante ativo ou observador. O objetivo desses experimentos era divulgar e avaliar as tecnologias existentes de participação social, bem como gerar ideias para novas tecnologias.
No contexto da comunidade de software livre, o laboratório queria também colocar em evidência a importância da abertura do processo (design) além da abertura do produto (código-fonte). Essa intenção se consubstanciou no conceito meta-participação, ou seja, participação na definição da maneira como se dará a participação.
Os conceitos de permeabilidade e de meta-participação nos levaram a planejar experimentos que ajudassem os participantes a entender os algoritmos das tecnologias de participação mesmo que eles não conhecessem as linguagens de programação. Para isso, decidimos simplificar a tecnologia mesmo que preservando a dinâmica de interação.
Um dos experimentos, por exemplo, simplificou o pairwise, um sistema adotado na consulta pública sobre a Estratégia de Governança Digital (aberta até 17/07/2015). Nese sistema, as propostas são mostradas aleatoriamente duas a duas e o cidadão deve escolher uma que lhe agrade. Quando a proposta é escolhida, ela ganha um ponto de vitória e quando não é escolhida, ganha um ponto de derrota. Traduzimos essa interação com post-its retirados de uma caixa que era sacudida com frequência. Os votos eram anotados na parte de trás do post-it. Os resultados foram publicados num mural baseado no esquema de pontuação.
As principais inovações sociais que surgiram à partir dos experimentos no FISL foram:
Além destas inovações, o laboratório vivo criou uma ponte entre os Ministérios da Cultura e das Comunicações, que ficaram interessados em realizar outros laboratórios vivos sobre inclusão digital e cultura digital. A apropriação criativa dos estandes do governo criou até uma ponte física, o varal em que exibimos as visualizações de rede do Labic. Essa aparência descolada quebrou todas as expectativas dos participantes em relação à apresentação das ações do governo.
Com essa ação, a Secretaria Geral da Presidência da República, disseminou o pensamento projetual como uma proposta para enriquecer a participação social e a gestão pública participativa. Espero que o governo cultive outros laboratórios vivos. A semente está plantada!
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