Após demonstrar como é possível projetar performances emergentes (experiência, interação e informação), eu costumo explicar o papel do design de interfaces gráficas nesse processo.
Na minha visão, a interface é justamente o conjunto de possibilidades de informação, interação e experiência entre pessoas e sistemas. Algumas destas possibilidades são oferecidas pelo próprio sistema, outras são criadas pelos próprios usuários em seus contra-projetos.
Interface não deve ser confundida com os fenômenos emergente que ela proporciona. Informação, interação e experiência são apenas possibilidades. Se uma pessoa não consegue utilizar uma interface, nenhum desses fenômenos emerge.
Interface gráfica é a parte mais visível da linguagem. O emprego de metáforas nas interfaces é só a ponta do iceberg. Além das metáforas, existem outros elementos característicos de linguagens humanas: gestos, símbolos, rituais, gêneros interativos, e a capacidade de agir simbolicamente em diversos contextos.
A professora Clarice de Souza criou uma teoria que ficou conhecida no mundo todo sobre o assunto, a Engenharia Semiótica. A ideia fundamental é que a designer codifica na interface uma mensagem de como o sistema funciona para tornar acessível suas funcionalidades para o usuário. O designer é um tradutor entre as linguagens do sistema (artificiais) e as linguagens do usuário (naturais).
Eu gosto dessa teoria, mas prefiro pensar que a interface em si é uma linguagem e não uma mensagem codificada em outras linguagens. Isso porque considero que a interface não é projetada apenas pelo designer, mas também pelo usuário no momento em que ele usa, customiza, conversa sobre a interface com outras pessoas e também quando ele se nega a usar a interface. Ou seja, na minha visão, a interface é uma construção social, tal como propõe o Steve Johnson no livro Cultura da Interface.
Na minha aula, explico que o conceito da interface continua a se desenvolver depois da sua programação em linguagem artificial. A interface é utilizada de maneiras inesperadas e isso transforma seu significado social. As ferramentas de analytics e testes A/B servem para reajustar a interface a tais mudanças sociais. Outra maneira como as interfaces se atualizam é através dos padrões de interação. Resumindo, os usuários fazem contribuições para a linguagem da interface tanto quanto os designers de interface.
Somente depois de explicar esse ponto fundamental é que explico a parte técnica do métier: wireframes, wireflows, diagramas e etc. Os entregáveis são dispositivos metalinguísticos que utilizam abstrações visuais para desenvolver a linguagem da interface. Embora alguns designers acreditem que cada interface tem sua própria linguagem, eu prefiro pensar que cada interface utiliza e complementa uma linguagem coletiva de interfaces.
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