Nem tudo no Flash são flores

por Frederick van Amstel

 

Irapuan Martinez
Webdesigner
Idade: 28 invernos
Cabelo: Preto
Olhos: Castanho
Altura: 1,78m
Peso: 95kg
ira@hypergraph.com.br
Homepage: hypergraph.com.br
Fórums/Listas: topica.com/lists/arqhp/

Irapuan Martinez é um daqueles homens que não tem medo de nadar contra a correnteza. Levanta a bandeira dos padrões abertos e luta contra à Flashmania. Ele é como um agitador político nas listas de discussão. Nos seus discursos inflamados contra os monopólios (leia-se Microsoft) e tecnologias proprietárias (como o Flash) não faltam bons argumentos. Ele é defensor da Web ideal: acessível, organizada e democrática.

Irapuan Martinez era bem conhecido nos bons tempos da lista Flash Brasil. Hoje, concentra suas forças na área de usabilidade, HTML e CSS. Ele costuma dizer que "Flash é como pimenta: Em pequenas doses deixa o prato mais saboroso. Uma sopa de pimenta, ninguém aguenta".

FlashMasters: Você já foi um dos maiores flasheiros do Brasil. Quando te deu o clique que gerou essa guinada pra longe do Flash?

Irapuan Martinez: Por volta de 2000 comecei a pesquisar webdesign fora do Brasil. Achei dois sites que foram cruciais: www.digital-web.com.br e www.zeldaman.com. Eles defendiam o webdesign em função da World Wide Web, não em função do design gráfico ou do motion design. O Flash, apesar da popularidade e do inegável look'n feel, tem pouco a ver com o método acessível e estruturado que linguagens como o HTML e CSS dispõe.

Além disso, o Flash se dá bem por causa do Windows. É notório que há muito a Macromedia tem a benção da Microsoft. Vale lembrar que ela ainda não lançou editores para a plataforma mais utilizada para servidores web, o Linux.

FM: Mas o fato é que o mercado está usando Windows e Flash. Estaremos todos errados?

IRA: A penetração do Windows não é em função da livre escolha do usuário. Ele é obrigado a usar o Windows porque muitas ferramentas não estão disponíveis em outras plataforma ou porque não sabe que tem opções. A Microsoft se empenha em empurrar o Windows em computadores novos e em parcerias com produtoras de softwares para que estas não explorem outras plataformas.

FM: Você considera que a Macromedia adota práticas semelhantes à Microsoft para obter monopólio na sua área?

IRA: Não. Mas fico pensando por ela e a Adobe não atuam fora da dupla Mac - Win.

FM: Nas listas de discussão, você é considerado um cara franco, contundente, intransigente por vezes. Fora do ambiente virtual você tem essa postura também?

IRA: As pessoas com quem discuto podem me achar intransigente, mas às vezes, a recíproca é verdadeira. Um assunto que me faz digitar longas respostas geralmente é o sujeito defender algo sem base razoável, como por exemplo, liderança do Internet Explorer. Já travei discussões inflamadas com gente que acha que a Web atingiu sua condição ideal, com Internet Explorer e Flash no topo da audiência. Isso é instransigência, se recusam a ver que a Web é muito mais do que uma plataforma.

Fora das listas, penso que sou alegre como o Dr. Spock e amigável como aquele cíclope do filme "Krull".

FM: Você costuma defender com unhas e dentes o usuário. E como você convence seus clientes de que essa é a melhor abordagem?

IRA: Se para profissionais a abordagem de padrões é complicada, que dirá para clientes ;) . Raramente falo de padrões com clientes porque eles não entendem. Procuro o meio termo entre a funcionalidade e a expectativa do cliente. Se o cliente pede coisas absurdas como fullscreen ou chromeless, argumento sobre acessibilidade e indexabilidade. Mas não posso também frustrar as expectativas do cliente, preciso obedecer. Minha proposta inicial é ter apenas HTML e CSS, só pratico Flash se o cliente insistir muito.

FM: Você considera a acessibilidade como o aspecto mais importante de uma interface Web?

IRA: Sim. A Web não é mídia submetida ao controle de quem a produz. A informação pode ser acessada tanto via Safari (MacOS) como via telefone, através de um sintetizador de voz. Designers estão habituados a trabalhar em espaços limitados, mas na Web não dá pra limitar o espaço da peça; cada internauta navega de uma maneira diferente.

FM: Você vê um website mais próximo de um sotware ou de uma narrativa?

IRA: Vejo como um diálogo. Você recebe o interlocutor, fala o que oferece e ele te pergunta o que quer saber. Se, em algum momento os dois não se entendem, o diálogo se encerra. Se os dois combinam, voltarão a ter mais o que conversar.

FM: Onde estaria o link nessa metáfora de conversa?

IRA: O link seria o interesse do usuário em continuar o diálogo. Se você não tem interesse numa conversa, não leva adiante.

FM: Qual a dica que você dá para quem está começando no webdesign?

IRA: Aprenda HTML e CSS, na mão. Nada de Dreamweaver ou Fireworks. Flash, só depois de compreender o HTML.

FM: Que dureza!

IRA: sempre digo que o lema do webdesign é "no pain, no gain" (sem dor, sem avanço). É por esse caminho duro que se forma o embasamento do profissional. É dose ver operadoradores de Dreamweaver desdenhando orientação à CSS ou usando tags <table> indiscriminadamente.

FM: Qual a importância de um código HTML semântico?

IRA: Código semântico é uma redundância; se estamos falando de HTML, já presumimos que o documento foi formatado semanticamente: paragráfos delimitados por <p>, títulos por <h1>, subtítulos por <h2>, lista de itens por <ul> ou <ol>, citações por <cite> ou <blockquote>, dados tabulados por <table> e etc. Se o sujeito usa <p> para demarcar um título de um documento ou <table> para separar layout, isso deixa de ser HTML. É a chamada "sopa de tags". Searchbots (como o do Google) dão importância ao conteúdo de <h1> ao indexar o documento. Títulos marcados corretamente auxiliam e muito os documentos para ficarem no topo das buscas.