Como se pode perceber pelos últimos posts, este ano estou envolvido intensamente com a formação de novos profissionais em design de interação. A partir de 2007, notei que começaram a surgir vagas procurando profissionais com esse perfil. Hoje elas são preenchidas com dificuldade. As empresas estão sendo obrigadas a treinar os novos profissionais, porém, sentem dificuldade em fazê-los captar o que elas querem.
Por mais que se mostrem definições teóricas do que é design de interação, a ficha demora a cair. Designers são profissionais que aprendem fazendo muito mais do que teorizando. Como ensinar fazendo algo que ainda não está sendo feito?
A esse respeito, tive uma experiência muito bem sucedida com meus alunos da Unisul recentemente que gostaria de compartilhar. A disciplina era Usabilidade e Ergonomia de Interfaces, mas por achar mais importante compreenderem design de interação como um todo, não enfatizei os aspectos do nome da disciplina. Em 30 horas de aula eu precisava dar essa visão geral e ainda construir com eles um projeto.
Comecei mostrando alguns projetos que julgo interessantes por explorar as possibilidades do design de interação. Designers são ótimos em observar outros projetos e reproduzir suas características. Porém, eu queria que eles compreendessem que design de interação não é o projeto do artefato em si e sim o que as pessoas vão poder fazer com o artefato.
Lá pelas tantas, apresentei um dos projetos do Instituto Faber-Ludens, o Catálogo de Brincadeiras. Expliquei que as brincadeiras de criança são formas de design de interação popular que existem a muito tempo e que a diferença para o design de interação profissional de hoje é que este embute as regras da brincadeira (ou qualquer outra atividade) nos artefatos. Os alunos se interessaram tanto que decidiram desenvolver o projeto da disciplina a partir dessa idéia. No videocast número 2 do Instituto explico melhor esse conceito:
A proposta era que eles extraíssem as regras de uma brincadeira e aplicassem-nas numa outra situação que não fosse uma brincadeira, tentando prazer e resultados práticos aos participantes. Primeiro eles tinham que levantar uma lista de brincadeiras que conheciam e uma lista de possíveis situações em que ela seria aplicável. Depois que escolhiam o melhor "encaixe", iam a campo pesquisar tanto a brincadeira quanto a situação. Na volta, tiveram que diagramar a brincadeira e apresentar as entrevistas sobre a situação. Veja o exemplo do projeto Pok, que visa aplicar no trânsito a brincadeira de jogar pipoca em pessoas que incomodam no cinema.
No caso desse projeto, a solução foi uma buzina melhorada. A buzina padrão é um sinal genérico que não indica o quê está sendo avisado, nem quem está sendo avisado. Por isso, é comum os motoristas devolverem com buzinadas, gerando uma confusão infernal. Os alunos Marco e Alan criaram uma buzina direcionada, acionada por um controle remoto. A recepção do sinal é dada por um adesivo colado no vidro ou capô do carro. Esse adesivo também exibe o status do motorista. Se ele recebe muitas advertências como essa, fica com a pontuação baixa. É um "Como estou dirigindo dinâmico". O motorista advertido fica sabendo na hora com o seu próprio controle remoto, que emite sinal sonoro dentro do carro. É uma espécie de "pipoca eletrônica" que, além de avisar o intransigente, o coloca numa situação de constrangimento social, inibindo o comportamento indesejado pelas pessoas ao redor.
Outro projeto interessante foi inspirado na brincadeira Elefantinho Colorido e aplicado em festas. As pessoas entram na balada e recebem um botom colorido, cada um de uma cor. De vez em quando, o DJ aciona um alerta e os botons de uma determinada cor acendem, incentivando que as pessoas com a mesma cor se encontrem e dancem juntas. Ajudei as alunas Bárbara e Mirela a construir um protótipo do Elefante Psicodélico na própria universidade. (Note no vídeo a precariedade da fixação do meu datashow).
Pode-se criticar que eles estão sonhando com uma realidade distante do mercado de produtos eletrônicos brasileiro. Sim, dar liberdade para desenvolver projetos experimentais é fundamental numa faculdade que deseja formar profissionais para o futuro e não só para o mercado atual. Porém, o que estou tentando ensinar não é o modo de funcionamento desses artefatos e sim o processo de design de interação. Este se aplica a qualquer artefato, inclusive aqueles que já estão bem estabelecidos no mercado. Um outro projeto que demonstra isso bem legal é o Boo, que se configurou num aplicativo OpenSocial para o Orkut. A inspiração veio da brincadeira Caça ao Tesouro e a situação foi o primeiro beijo de um adolescente. Já avisei ao Jader e a Juliana que eles podem ganhar muito dinheiro se conseguirem desenvolver mais o projeto.
Ainda desenvolvemos outros projetos interessantes com os alunos, cujo processo está todo documentado no blog da disciplina. Aliás, graças a este blog, outros professores estão aplicando algumas das idéias em suas disciplinas, como é o caso de Elton Vinicius da Silva com seus alunos da UFES. Adorei os trabalhos dos alunos e espero que essa iniciativa esteja contribuindo para vivermos num mundo melhor projetado!
No curso de especialização do Instituto Faber-Ludens estou aplicando uma versão mais completa do exercício. Aliás, estamos planejando levar o curso a outras cidades. Quem tiver interesse, por favor, participe da enquete.
Siga-me no Twitter, Facebook, LinkedIn ou Instagram.
Encontrei agora esse site, adorei parabens..
MUITO OBRIGADA PELOS E-MAILS E INFORMATIVOS!
GOSTARIA DE SABER SOBRE OS CURSOS E ONDE SÃO MINISTRADOS NO MEU ESTADO( BAHIA).
PARABÉNS...
rapz ... que blog legal ... fiquei muito impressionado com as possibilidades do design de interação
eu sou aluno da ufes de design gráfico. Eu estou procurando livros sobre o assunto ... se você pudesse me indicar algumas coisas eu ficaria grato ....
Abraço !
Assine nosso conteúdo e receba as novidades!
Atualizado com o Movable Type.
Alguns direitos reservados por Frederick van Amstel.
Apresentação do autor | Website internacional | Política de Privacidade | Contato