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Design participativo com uma criança: meu filho

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Design participativo com uma criança: meu filho

Preferi comprar um Pocket PC ao invés de um Palm, só porque o Pocket PC permite rodar shockwave Flash, formato no qual são publicados os jogos educativos que meu filho de 4 anos gosta.

A tela sensível ao toque e a portabilidade do aparelho permite à criança maior controle e conforto no uso. Ao contrário do PC desktop, o Pocket Pc pode ser carregado para aonde ela for, como se fosse um brinquedo qualquer. O aprendizado é uma atividade espontânea, mas está sujeito a certas condições. Às vezes a criança não está concentrada o suficiente para atividades intelectuais, mas não conseguimos perceber isso com clareza. Deixar a criança escolher quando quer aprender é bom para que ela perceba que ela é o agente de seu próprio aprendizado.

Entretanto, se esse poder não interessar, a criança pode não fazer uso dele. A maioria dos jogos infantis que encontro por aí são extremamente chatos e praticamente não tem valor pedagógico. Tratam-se de variações temáticas de jogos clássicos como memória, tetris, quebra-cabeça, genius. Parece até que os desenvolvedores de games para crianças baixam os modelos prontos dos jogos e só mudam os sprites! No geral, os gráficos são caprichados, mas a interação proposta é maçante; a criança é tratada como ignorante que precisa aprender algo para progredir e se não o fizer dentro das regras que o jogo impõe, ela continuará ignorante; a criança é induzida a pensar de uma única forma, sem liberdade para imaginar outras situações a partir dos objetos apresentados; o jogo reprova mais do que elogia a criança.

Veja o colorido Jogo das Letras do portal Smart Kids:

Jogo das Letras

A princípio parece um jogo inocente para ensinar o abecedário: a criança tem que arrastar o objeto que começa com a letra que está na estação de trem. O problema é que o jogo não te diz isso. A única forma de saber é clicando no botão "como jogar":

como Jogar o Jogo das Letras

Para a criança que pode descobrir como jogar sozinha lendo as instruções, o jogo não apresenta desafio algum!

Ao invés do jogo começar exigindo algo da criança, ele deveria dar algum conhecimento e, em seguida, desafiar a criança a aprender mais. Veja como o mesmo jogo foi rearranjado diferentemente para a Vila Sésamo: Garibaldo recebe uma carta contendo uma letra e pergunta se a criança pode apontar 3 objetos que estão nas suas prateleiras que comecem com a letra.

Big bird explica melhor

Se a criança erra, o Garibaldo dá uma dica. O Kid do Jogo das Letras balança a cabeça e emite um irritante ãh-ãh. Outra diferença é que o Jogo das Letras exige que a criança tenha uma destreza muito grande com o mouse: selecionar o objeto pequeno, arrastar-e-soltar até encaixar num alvo também pequeno. Meu filho teve tanta dificuldade com o Jogo das Letras que ficava me pedindo para eu colocar os objetos na caixa, enquanto que mesmo não entendendo muito de inglês, se divertiu horas com o Garibaldo, ou melhor, Big Bird.

O Sesame Workshop é o melhor site que encontrei com atividades para crianças, mas o inglês ainda é uma barreira para meu filho. Em português, o melhor que encontrei foi o Mundo da Criança, que possui um acabamento impressionante, mas a as idéias seguem aqueles templates recorrentes. Eles deveriam dar uma olhada nos jogos orisinais do Ferry Halim para inspiração...

Resolvi tentar fazer melhor, pelo menos para meu filho. Coloquei na cabeça que tinha que desenvolver algum jogo para meu filho. Fiquei dias pensando qual o tema do jogo, o que eu gostaria de ensinar a ele através do jogo, como poderia ser um aprendizado divertido e etc.

Quando ele tinha 2 anos, comentei aqui no blog que já estava ensinando ele a ler porque considero a leitura uma faculdade fundamental para a sobrevivência e desenvolvimento na sociedade em que vivemos. Resolvi voltar ao tema e propor que ele aprendesse a ler os nomes dos parentes próximos. Montei um jogo que começava com uma lista de nomes e quando ele clicava no nome, aparecia a foto do parente e uma mensagem em áudio com o parente falando algo engraçado para ele. Para ouvir as mensagens que ele queria, ele tinha que aprender a ler os nomes. Foi um sucesso! Tanto o garoto como a parentada adoraram! Só não mostro aqui para não expô-los ao ridículo, hehehe.

Meu filho olhava e perguntava de vez em quando enquanto eu desenvolvia o jogo no Flash. Outro dia, me chamou para ver o seguinte desenho:

Desenho de fios elétricos e tomadas

O assunto aparelhos elétricos, tomadas e fios interessa muito ele no momento. No desenho estão representados ventiladores, computadores e filtros de linha com seus respectivos fios. Eu exclamei "nossa cara, quanta fiozeira!" e perguntei "de qual aparelho é esse plug?" ao que ele me respondeu "não sei", seguido de uma risada marota. Para descobrir, tive que fazer o caminho inverso do fio, do plug até o aparelho. Ele gostou da brincadeira e perguntei se ele gostaria de transformar isso num jogo para colocar no Pocket PC. É claro que ele disse que sim!

Peguei a caneta, outro papel e apresentei pra ele a idéia que eu tive: um emaranhado de fios, onde ele teria que descobrir qual era o plug de cada aparelho. Essa idéia não surgiu por acaso; ele costuma brincar com as extensões e conectores elétricos que tenho e sempre reclama quando eles ficam embolados. No jogo, ele teria que desembolá-los mentalmente para saber a resposta certa.

Primeiro esboço do jogo da fiozeira

Perguntei a ele qual era o plug da televisão no desenho acima. Ele encostou o dedo no fio que saia da televisão e foi arrastando o dedo, seguindo o caminho do fio, assim como eu tinha feito na brincadeira original. Como os fios estavam embolados demais, ele não conseguiu resolver o problema.

Fiz outro menos embolado, mas ainda assim ele não conseguiu.

Segundo esboço

Somente no teceiro esboço, ele conseguiu resolver sozinho:

Terceiro esboço do jogo da fiozeira

Os nomes dos aparelhos apareceriam depois de resolvido o problema, para ele aprender a ler essas palavras. O problema é que, nesse momento, ele já teria concluído a tarefa e o aprendizado das palavras não seria mais necessário. Me lembrei do jogo dos parentes, que exigia que ele soubesse ler o nome dos parentes para escolher qual queria ver e resolvi adotar a mesma estratégia. Ao invés de colocar todos os aparelhos num mesmo quebra-cabeça, cada aparelho teria seu emaranhado a resolver.

Para que continuasse havendo opções de plugs, adicionei alguns que finalizavam em fios desencapados e avisei que, se ele passasse o dedo por cima, tomaria um choque (ele sabe o que é isso, pois já enfiou sem querer o dedo na tomada uma vez).

Quarto esboço

Apesar de não conseguir resolvê-lo sozinho devido ao emaranhado excessivo, meu filho se divertiu à beça e pediu para fazer outro, dessa vez com T (também conhecido como benjamin).

Ainda fizemos algumas outras opções, mas sem alterar a base do jogo. Abri o Flash e mostrei pra ele como estava fazendo, mas é claro que ele não se interessou muito pelo Actionscript. Só voltou pra participar quando comecei a gravar os áudios. O som do liquidificador ligado é a voz dele.

O Jogo da Fiozeira pode ser visto na seção Jogos Educativos que estou inaugurando neste blog para postar nossos experimentos nesse sentido. Estou disponibilizando os códigos-fontes para que os leitores possam fazer suas experiências também.

Quem se interessar pelo assunto, vale conferir a dissertação da Amanda Meincke Melo que emprega a semiótica para esmiuçar o design participativo de um portal infantil e o Kidpad, software que motivou meu filho a aprender a usar o mouse quando ele tinha apenas 3 anos de idade.

Livros indicados

Livros e Computador Como 
  Multiplicar a Inteligência do seu Bebê

Autor

Frederick van Amstel - Quem? / Contato - 12/02/2007

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Citação

VAN AMSTEL, Frederick M.C. Design participativo com uma criança: meu filho . Blog Usabilidoido, 2007. Acessado em . Disponível em: http://www.usabilidoido.com.br/design_participativo_com_uma_crianca_meu_filho_.html

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Comentários

Discussão
Richard Barros
12/02/07 às 08:31

Parabéns pela iniciativa! Acompanho seu blog pelos feeds no netvibes. Sou estudante de design da ufrj e assuntos como design de interação e ergonomia sempre me interessam.. então estou sempre visitando! Continue com o ótimo trabalho e abraços!


Discussão
Rodrigo Prior
15/02/07 às 23:04

Fala Fred, tudo bom??

Estou passando aqui para parabenizá-lo pelo conteúdo do blog(fazia um tempinho que não passava por aqui) e convidá-lo a participar desse meme em meu blog:

http://www.lucrando.net/2007/02/15/como-o-tratamos-nossos-visitantes/

Abraços,
Rodrigo "digom" Prior.


Discussão
Rafael Dourado
19/02/07 às 00:09

Achei um problema com o Jogo da Giozeira. Quando eu seleciono o item que eu quero ligar na tomada, as vezes acontece de eu querer levar o mouse para o começo, mas como tem uma tomada no meio do caminho eu já levo choque. Nem começo a brincar e já me lasco.
Gostei muito da iniciativa. Faz tempo que não acesso o seu blog por causa do problema que estava (ou está) tendo com o feed, mas quando me lembro de entrar sempre tem algo bacana para ler.
Estou fazendo minhas primeiras experiências com jogos educativos e suas dicas já irão servir como referência.
Abraços.


Discussão
Rafael Dourado
19/02/07 às 00:11

Tinha esquecido que o jogo era para PocketPC. hehehe.


Discussão
Nuno
02/03/07 às 13:09

O que mais me surpreendeu neste post não foi todo o conhecimento que você adquiriu com seu filho e transmitiu para nós. E sim o exemplo de um bom pai, sabendo investir bem em um bom filho.


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Rafael Dourado
04/03/07 às 15:03

Frederick, testei recentemente a última versão do Classmate PC, voltado para um público infantil. Caso o interesse ou a algum outro leitor do seu blog, o endereço é o seguinte: http://www.netlus.com.br/testamos-um-computador-educacional/


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Nandico
28/03/07 às 12:07

Oi Fred! Não sabia que você era pai =). Já comecei a rastrear as experiências que você fez aqui, pois meu filhote tá completando um ano agora e também é louco por fios, tomadas e filtros de linha (rs). O jogo ficou show de bola!!!

A propósito: tenho visto muita coisa boa em relação a interação com o Nintendo DS que comprei um tempo atrás. Minha mulher que odiava video-game, tá adorando os jogos que pode usar o dedão ou a stylus para jogar. Ela pulou do Atari direto para o DS porque não gostava de joystick de cruzeta (sem alavanca).

Penso que com alguma coisa de homebrew, dê para fazer algo mais robusto, pelo fato do DS ser mais resistente que o Pocket PC. Já tive Pocket PC e achava um saco por cada vez que ele caia, quebrava alguma coisinha, até que um dia ele morreu =). Abraços...


Discussão
Fernando Souza
17/04/07 às 13:29

oi, achei este link interessante, e relaciona com a idéia do post. http://www.makezine.com/blog/archive/2007/04/diy_kids_kiosk.html?CMP=OTC-0D6B48984890

o que acha?


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Frederick van Amstel
17/04/07 às 15:27

Fernando, me interessei mais pela proposta da revista de compartilhar idéias de faça você mesmo do que do post.

Monitores touchscreen causam dores nos braços após uso prolongado. O bom Pocket PC é que ele é pequeno e leve o suficiente para ser colocado em qualquer lugar. Meu filho costuma colocar no chão.


Discussão
BIANCA KAROLINA
08/12/07 às 13:27

nao entendo nada disso
nao entendo nada disso


Discussão
Claudio
15/10/08 às 14:50

muito legal.
Procuro tb jogos para a terceira idade.






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