Na disciplina eletiva Design Thinking da PUCPR, tive a oportunidade de testar minha tese com meus alunos. Simplifiquei os conceitos da tese e tornei eles acessíveis para o nível de graduação em Design. Os projetos resultantes foram excelentes.
Basicamente, Design Expansivo refere-se aos projetos que incluem contradições. Ao invés das contradições serem consideradas ameaças, elas são consideradas oportunidades. Todo projeto surge de uma contradição e, quando toma consciência disso, pode se aproveitar de sua força potencial para provocar mudanças efetivas na sociedade. Por isso, minha proposta prática é fazer design impulsionado por contradições.
Isso é muito diferente do processo cognitivo de solução de problemas que a abordagem design thinking costuma enfatizar. Por isso mesmo, já redefino no começo da disciplina design thinking como pensamento projetual e, a partir disso, focalizo no tipo de pensamento expansivo que inclui contradições.
A vantagem desta abordagem é o aprofundamento em questões complexas e maior contextualização das propostas de projeto. Enquanto focalizam em problemas, designers tem dificuldade de perceber a complexidade do que estão estudando, pois, assim que definem um problema, imediatamente começam a pensar numa solução fácil pra ele. Essas soluções costumam ser tão fracas que os usuários não percebem valor algum na proposta quando apresentada a eles.
O conceito de contradição não permite tal análise superficial e obriga os designers a compreender a história do contexto, as possibilidades de projeto e os desafios de implementação.
Eu defino uma contradição como uma tensão acumulada na sociedade entre duas forças opostas que, pelo embate, podem formar uma terceira força. Essa terceira força consiste na superação da contradição, porém, seu processo de gestação é bastante demorado. A terceira força não elimina a contradição, porém, transforma sua configuração. A sociedade muda quando uma contradição se torna outra.
A proposta do design impulsionado por contradições é se colocar no meio dessa tensão e facilitar a formação da terceira força. A superação da contradição é uma tarefa da sociedade e não do designer, mas ele pode torná-la mais visível e provocar as pessoas a fazer algo a respeito.
Vejamos como meus alunos aprenderam a lidar com o conceito de contradição. Introduzi o assunto com os seguintes slides.
Design impulsionado por contradições [MP3]
Depois pedi que lêssem o texto Atividade social como base de projeto e fizessem uma pesquisa de uma atividade que eles gostariam de mudar e respondessem o seguinte questionário:
De posse das respostas destas perguntas, eles puderam aprofundar a compreensão da contradição através do método PSP. Embora esse método focalize em problemas e soluções, a impossibilidade de uma solução final leva à reflexão sobre o que estaria por trás disso, no caso, a contradição.
Na maioria dos grupos, os estudantes ainda estavam longe de descrever a contradição que move a atividade. O diagrama da atividade induz a uma compreensão estática da contradição, como se ela sempre tivesse sido assim. Por isso, no próximo exercício, pedi que a contradição fosse representada no passado, presente e futuro. O novo diagrama é para ser lido de baixo para cima.
Esta equipe de estudantes conseguiu mostrar as forças opostas na atividade do homem de modificação da natureza. Elas perceberam que há uma tendência, devido ao aquecimento global, dessa atividade ser caracterizada pela adaptação e não mais pela dominação da natureza.
Com o objetivo de mostrar que a contradição não é fácil de ser resolvida como um problema abstrato, fizemos uma sessão de teatro imagem a respeito do tema de cada projeto. Projetando com o corpo inteiro, os estudantes tiveram a oportunidade de sentir na pele a contradição estudada. Todos os movimentos de superação foram registrados e posteriormente organizados pelos alunos.
Algumas equipes ficaram presas em ciclos viciosos, sem uma via alternativa. Por isso, tivemos que realizar mais uma sessão de teatro imagem para encontrar ações possíveis. Ainda assim, a contradição se mostrou mais difícil de superar do que imaginavam.
Depois de experimentar a contradição, os estudantes estavam prontos para começar a pensar no seu projeto de mudança da atividade. Nos slides, havia explicado que a contradição acumula com mais força no objeto da atividade e, quando este se transforma, toda a atividade muda. Então, propus que eles modelassem o objeto antigo da atividade e o objeto novo que eles estavam querendo fortalecer.
A tarefa final da disciplina foi criar um serviço que ajudasse a transformar o objeto antigo no objeto novo. A equipe dos estudantes Bianca Giacomini, Caroline Nohama, Luciana Vidolin Martins e Rodrigo Medalha fizeram um projeto de um serviço de troca de garrafas PET por camisetas feitas com esse material reciclado.
Um ponto que enfatizei bastante na disciplina é que uma contradição nunca é eliminada ou solucionada tal como um problema. Por isso, pedi que a proposta de serviço fosse documentada num vídeo que iria explicar as novas contradições que o projeto iria estar configurando. Desta maneira, a proposta do serviço ficaria também mais robusta, já incluindo os desafios de implementação.
Quem tiver curiosidade, pode ver uma playlist com todos os projetos de serviços elaborados pelos estudantes. A disciplina mostrou que pensar e interagir com contradições é uma maneira produtiva de projetar serviços em grupo. No próximo semestre, a disciplina Design Thinking será ofertada em inglês pela PUCPR, com o objetivo de atrair estudantes de intercâmbio de outras áreas. Essa multidisciplinaridade ajudará a capturar melhor a contradição, pois quanto maior a diversidade de formação, maior é a possibilidade de conflitos produtivos entre os estudantes.
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Excelente artigo, contribuindo pra disseminação da TA no Brasil. :)
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