Num congresso na Suécia, ouvi o seguinte comentário de Jonas Löwgren: "Experiência do usuário é como o mercado chama essa prática que nós da academia chamamos de design de interação". Apesar de respeitar muito o trabalho do Löwgren, eu não gosto dessa analogia.
Design de Interação é uma área acadêmica que investiga não só o que o mercado está interessado, mas também assuntos sem fins comerciais. Experência do usuário, ou como prefiro abreviar, ExU, visa proporcionar boas experiências para usuários de produtos e serviços comerciais. Design de Interação não está comprometido com essa boa experiência, nem tampouco com a noção de usuário.
Ao longo dos 30 anos da área, vários experimentos foram realizados para mostrar que algumas noções utilizadas no mercado são estreitas demais. Pesquisadores buscaram mostrar que as experiências ruins são importantes para a vida humana e que, de um modo geral, nossa sociedade está se tornando excessivamente hedonista. Hedonista significa que as pessoas se preocupam apenas em obter prazer e felicidade para si próprias. Existem projetos em Design de Interação voltados a desencorajar esse tipo de comportamento, algo impensável dentro do mundo de ExU.
Design de Interação é, portanto, uma área mais abrangente do que ExU. Além de ExU, outras práticas estudadas em Design de Interação são: web design, design de interface, design de serviços, design de jogos, design de apps e design de instalações interativas. É bem possível que o surgimento de novos meios de interação aglutine novas práticas especializadas.
Estudar Design de Interação significa perceber o que há de comum e diferente entre essas práticas. A interação é, pra mim, o ponto principal, e a diferença são os meios de interação e os métodos de design.
Aglutinadas dessa maneira, a área do Design de Interação ganha estofo acadêmico para pleitear reconhecimento na disciplina maior, o Design com D maísculo. Ao invés de abordar Design de Interação como uma área interdisciplinar (tal como Interação Humano-Computador), eu vejo a como uma sub-área do Design, ao lado de Design Gráfico e Design de Produto. Isso significa que Design de Interação não é uma sub-área da Computação.
Embora Design de Interação tenha se desenvolvido à partir de uma demanda gerada pela Computação, a área surgiu justamente como uma alternativa ao projeto de sistemas baseados em requisitos. As práticas de design de interação não visam gerar conhecimentos sobre a realidade, tais como modelos, para depois implementá-los como sistemas. Os sistemas são os meios pela qual a interação acontece e não o fim, logo, o conhecimento valorizado pela área diz respeito à interação que as pessoas têm ao desesenvolver e usar os sistemas.
Essa epistemologia (o que se considera como conhecimento válido) implica no desenvolvimento de projetos como principal maneira de gerar conhecimento. A revisão de literatura, os experimentos de laboratório e os estudos etnográficos não são os métodos utilizados por excelência no Design. A abordagem particular do design é chamada de Pesquisa Através do Design. O conhecimento gerado por tal pesquisa são os próprios artefatos projetados, os conceitos por trás dos artefatos, as heurísticas relativas ao processo de design e o mais importante: uma narrativa.
A epistemologia científica em que está baseada boa parte da Computação e da Interação Humano Computador valoriza outros tipos de conhecimento. Buscam-se leis universais, teorias, regras de ouro, algoritmos e métricas. Desenvolver um projeto específico raramente á uma maneira de encontrar esse tipo de conhecimento mais abrangente.
Design de interação é uma disciplina comprometida com o desenvolvimento e estudo e desenvolvimento de meios para a interação. O conhecimento gerado pela área é específico para cada situação de projeto, ou seja, é um conhecimento situado. A acumulação de conhecimento não se dá pela sistematização de generalizações abstratas, mas sim pelo aprendizado em comunidades de prática em que os próprios pesquisadores estão participando. Ali o conhecimento adquire um caráter dialógico, sendo construído e reconstruído constantemente.
Quem deseja contribuir significativamente com a área deve, na minha opinião, participar da comunidades de prática e projetar algo. Leituras, experimentos e estudos etnográficos podem ser uma maneira de entrar na comunidade e até mesmo de apoiar suas atividades, porém, sem participar diretamente de projetos não vejo como um pesquisador pode contribuir substancialmente para o Design de Interação.
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