Há alguns anos venho aperfeiçoando minha habilidade para mediar oficinas de co-criação. Comecei fazendo isso nas minhas aulas de design e depois apliquei em projetos comerciais e projetos de pesquisa. Acumulei um conhecimento tácito difícil de ser transmitido. As pessoas me perguntavam como eu fazia para manter a energia fluindo durante o workshop e eu não sabia responder bem até ver o vídeo abaixo.
Trata-se de um vídeo em timelapse da oficina que organizei para vislumbrar um laboratório vivo entre a Prefeitura de Curitiba e várias universidades. O vídeo foi gravado pelo meu colega da PUCPR, o Artur Mittelbach. Olhando o vídeo várias vezes, consegui entender melhor como faço isso.
Em primeiro lugar, eu tento manter as pessoas o máximo de tempo fazendo coisas além de falando. Quando as pessoas falam e não constróem algo juntas, podem empacar na diferença de opiniões. Externalizar o pensamento utilizando materiais ajuda a desvincular a ideia do pensador, o que habilita a crítica. Quando se faz uma crítica baseadas numa fala, há o risco da pessoa se sentir ofendida pois a ideia está dentro da pessoa. Quando a ideia é externalizada, fica mais clara a diferença entre pessoa e ideia e os demais podem não somente criticar como também acrescentar novas ideias.
Como facilitador, costumo interromper falas alongadas e perguntar à pessoa qual é a sugestão dela, principalmente se a fala tem tom de reclamação. A proposta é canalizar a expressão destrutiva para um fim construtivo. Quando as pessoas estão mais familiarizadas com o jargão da democracia participativa, uso a pergunta-chave: "e qual seria o encaminhamento disso?".
Em alguns casos, a reclamação é sinal de um conflito que precisa ser trabalhado. Nesse caso, interrompo a pessoa para confrontar com uma perspectiva diferente de uma outra pessoa que tenha se manifestado anteriormente. Deixo a discussão correr entre as duas até parecer que não há solução. Então, convido a construir algo juntas: um modelo, uma imagem, um objeto, uma encenação. Essa construção se dá primeiro com contribuições individuais em silêncio e depois através da conversa e manipulação do modelo.
Depois que as pessoas constróem algo juntas, convido elas a contemplar o que construiram com um minuto de silêncio. Esse momento de reflexão costuma render insights inesperados e, por outro lado, descansa um pouco o ouvido e a atenção em outras pessoas. Também valoriza a construção coletiva e ajuda a identificar contribuições isoladas no todo. Os conflitos e divergências ficam patentes, porém, eles parecem agora mais construtivos do que destrutivos. Fica claro que ali deve ser o foco das atenções e que uma ação nesse conflito irão ter maior repercursão.
Depois que os conflitos estão deflagrados, é interessante dividir os participantes em grupos. Inicialmente o grupo deve ser entre as pessoas que concordam com uma mesma posição. Depois, esse grupo deve ser preferenciamente desmembrado para dar lugar a grupos com diversidade de opiniões. Por fim, os trabalhos em grupo devem ser apresentados para todos, no grupo grande. Esse momento também de reflexão é excelente para avaliar o próprio trabalho em grupo.
Esse processo de vai e volta nas discussões é análogo ao movimento do corpo das pessoas durante a oficina. Se as pessoas estiverem sentadas, a tendência é que se acomodem em suas posições, que continuem conversando com as mesmas pessoas, construindo o mesmo objeto. Por isso, tento manter as pessoas em pé e circulando o máximo possível durante a oficina. Paredes, quadros brancos móveis e mesas sem cadeira são recursos importantes para estimular essa atividade corporal. Às vezes é preciso lembrar as pessoas de que elas podem circular.
Organizar uma oficina de co-criação vibrante requer planejamento, mas este não pode ser seguido à risca. Estruturar demais a interação pode deixar as pessoas numa postura passiva, em que elas esperam o facilitador dizer o que é pra fazer. Isso é ruim, pois é justamente nas iniciativas espontâneas que se encontra a inovação. Portanto, é preciso ir adaptando o planejamento da oficina de acordo com a percepção de seu andamento.
Um indicador que eu uso muito é a chamada "energia" da oficina. Quando as pessoas estão demonstrando disposição e foco nas atividades, bem como obtendo prazer por participar, a energia está fluindo bem. Quando elas aparentam estar cansadas ou desatentas, então é hora de fazer um interval, mudar de atividade ou trocar de postura corporal.
Um exemplo interessante (que não aparece no vídeo) é que ficou faltando uma atividade importantíssima para pensar em fontes de financiamento para o laboratório vivo. Eu tinha programado uma dinâmica baseada em mapas para pensar isso, mas notei que os participantes estavam cansados demais para se engajar. Então, pedi emprestado um capacete de bicicleta que um participante havia trazido e pedi que todos colocassem suas fontes de financiamento dentro. Depois, sorteei algumas e li em voz alta. Isso reduziu em três vezes o tempo da dinâmica e ainda assim conseguiu levantar as ideias necessárias.
Isso foi o que eu vi. Provavelmente existem outras técnicas que utilizo que não ficaram tão explícitas no vídeo. Se você estiver vendo alguma coisa que não vi ou quiser fazer uma pergunta, utilize os comentários abaixo.
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