Em minha experiência de academia e mercado, cheguei à conclusão que não se faz pesquisa com usuários em projetos não por falta de recursos, mas por falta de conhecimento. Não se sabe o que é, pra quê serve, quando fazer e como fazer. Quando o profissional sabe o que é possível fazer, sempre consegue encaixar algum tipo de pesquisa, por menor que seja.
Essa foi umas das forças motivadoras para fundar o Instituto Faber-Ludens. Expliquei esse ponto na palestra do Encontro de Webdesign em 2007. Com o Instituto, queremos promover pesquisa de qualidade no Brasil, pois somente assim chegaremos à tão desejada inovação econômica, política, social. Em se tratando de Design de Interação, falo de pesquisa com usuários, não de pesquisa técnica. A contribuição principal do Design de Interação não é a invenção de novas técnicas de produção e sim novas formas de aplicação da técnica, como expliquei na palestra sobre Ajax.
No design de interação, a pesquisa de campo é uma ferramenta essencial para a criação de serviços, produtos e artefatos interativos. Diferentemente de outras abordagens de design, o design de interação se destaca por sua base em pesquisas com usuários. Isso envolve compreender o comportamento das pessoas e como elas interagem com os produtos e serviços que estão sendo desenvolvidos. Grandes empresas de design, como a IDEO e a Frog Design, empregam designers de várias áreas trabalhando juntos para aproveitar diferentes abordagens para resolver problemas complexos. Já empresas como Nokia, Motorola e Apple utilizam a pesquisa como prospecção de novos produtos e tecnologias. Enquanto a Apple mantém seus métodos de pesquisa em segredo, a Nokia e a Motorola têm se destacado ao investir em pesquisas para desenvolver produtos adaptados a mercados emergentes.
Uma das vantagens da pesquisa de campo é que ela promove a compreensão das diferenças entre os usuários e os designers, permitindo projetar produtos mais adequados. Além disso, a pesquisa possibilita descobrir oportunidades de inovação ao observar soluções criativas usadas pelas pessoas em suas atividades diárias, como hacks e gambiarras. Isso permite incorporar soluções já existentes em produtos, economizando tempo e esforço na criação de novas abordagens. A pesquisa também é crucial para confrontar realidades e evitar investimentos em projetos que possam não ter sucesso, contribuindo para a tomada de decisões fundamentadas.
A pesquisa de campo permite aos designers e desenvolvedores compreenderem as diferenças entre eles e os usuários finais dos produtos. Ao sair da zona de conforto do projetar para si mesmo e explorar as necessidades e comportamentos dos usuários reais, é possível criar soluções mais eficazes e impactantes. Além disso, essa abordagem mais consciente ajuda a empresa a considerar o impacto de suas criações no mundo, além de criar produtos mais adaptados às necessidades das pessoas.
A pesquisa de campo envolve diversas técnicas, como entrevistas, observações e análise de comportamento. Muitas vezes, é necessário adotar abordagens diferenciadas de acordo com o contexto e o público-alvo. Simuladores online e questionários são ferramentas valiosas para coletar dados, mas é importante garantir que as perguntas sejam claras e autoexplicativas para obter respostas precisas. Além disso, o uso de instrumentos de pesquisa como câmeras e gravadores pode fornecer insights valiosos.
Embora o trabalho de campo seja crucial para o design de interação, é preciso ser cauteloso quanto à interpretação dos dados. É comum as pessoas responderem ao que acham que os pesquisadores querem ouvir. Portanto, a transcrição de entrevistas e a análise dos resultados requerem cuidado e atenção. Com as ferramentas certas e uma abordagem ética, a pesquisa de campo pode fornecer uma base sólida para o desenvolvimento de produtos interativos que atendam às necessidades e desejos dos usuários.
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Como fazer pesquisa de campo em design de interação [MP3] 2 horas e meia
Este episódio faz parte de uma série de aulas sobre pesquisa de experiências (ux research).
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