Eu trabalho com Experiência do Usuário há quase 10 anos, desde quando pedi demissão do meu emprego de webdesigner para virar um consultor especializado. Nesse meio tempo, o nome do que faço e a natureza do meu trabalho mudaram várias vezes. Já me intitulei arquiteto da informação, analista de usabilidade, designer de interação.
O fato é que eu simplesmente não consigo ficar muito tempo parado dentro de uma disciplina. Sou indisciplinado, porém, não sou contra as disciplinas. As disciplinas têm um papel fundamental em acumular e regular um determinado tipo de conhecimento. Ajudam a identificar grupos de profissionais, explicar o que eles fazem, receber os novatos.
A principal referência de qualquer disciplina é sua própria história. Os pioneiros, os livros clássicos, os projetos visionários, os críticos, os revolucionários. As disciplinas mudam, porém, muito mais lentamente do que os profissionais que a sustentam. Quando se torna completamente anacrônica, esvazia-se e desaparece.
Lembro-me de uma palestra do Luli Radfahrer que assisti no começo da minha carreira, em 2003, sobre a importância de não ficar preso à disciplinas específicas. Ele perguntava: “Quem é que lembra do videomaker?”. 10 anos depois, a pergunta hoje seria “Quem é que lembra do webmaster?”.
Eu já fui webmaster, porém, não fiquei na disciplina até que ela perdesse totalmente sua credibilidade. Em 2008, dei uma palestra parecida com a do Luli com algumas ideias de especialização para quem, na época, se intitulava web designer. Em apenas 5 anos, o termo já está quase no nível do webmaster.
A obsolescência programada da tecnologia parece afetar também os profissionais que desenvolvem estas tecnologias, causando um problema ainda maior do que o lixo eletrônico. O profissional tem que se manter atualizado por conta própria para não correr o risco de perder o emprego, ou pior, a sua empregabilidade.
Disciplinas são criadas e outras esvaziadas em questão de anos. Os últimos a pular do barco pagam o pato. Ninguém quer ficar pra trás, ficar “outdated”.
O barco da vez no Brasil atende pelo nome de Experiência do Usuário , ou como é mais comum encontrar, a abreviação do inglês UX. Algumas pessoas dizem que é uma disciplina, outras, dizem que é um conceito guarda-chuva para várias disciplinas.
Eu já defendia o uso do termo desde quando o Guilhermo Reis e a Carol Leslie começaram a organizar o primeiro EBAI . Eu sugeri que fosse usado o termo guarda-chuva para atrair pessoas que não estavam necessariamente envolvidas com Arquitetura da Informação. Na época, UX não era conhecido e AI era o barco da vez, por isso minha sugestão de chamar de EBUX (ou algo assim) não foi incluída.
O nome não limitou seus organizadores, visto que tanto o EBAI, quanto este blog, criados mais ou menos na mesma época, abordam temas que vão além do que é tradicionalmente conhecido como Arquitetura da Informação. Porém até quando irá durar?
Nos Estados Unidos, tivemos o caso da Usability Professional Association (UPA), uma associação com 20 anos de estrada que mudou seu nome para UXPA . Será que a mudança do nome faz tanta diferença que a associação conseguirá recuperar o prestígio que tinha 10 anos atrás?
Faço a mesma pergunta aos profissionais: vale à pena a mudança de nome de denominação para ux designer? O que se ganha com isso em termos de compreensão do que você faz? Quanto tempo você acha que essa denominação vai durar?
Pergunto, pois:
Meu conselho é focalizar em conceitos que não dependam de condições tecnológicas ou mercadológicas. Se você projeta interfaces para celulares, eu recomendo especializar-se em mobilidade, incluindo saberes sobre movimento do corpo humano, sociologia urbana, etc. Esses saberes irão lhe dar sobrevida profissional quando a telefonia celular der lugar à telepatia, ou o que for que vier para substituí-la.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog de Arquitetura da Informação. Se quiser comentar, por favor, dirija-se ao blog de origem.Siga-me no Twitter, Facebook, LinkedIn ou Instagram.
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